terça-feira, 27 de maio de 2008
Como surgem os relâmpagos?
Um relâmpago é uma corrente elétrica muito intensa que ocorre na atmosfera. Ele é conseqüência do movimento de elétrons de um lugar para outro. Os elétrons se movem tão rapidamente que fazem o ar ao seu redor se iluminar, resultando em um clarão, e se aquecer, provocando o som do trovão.
Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o relâmpago tem normalmente "duração de meio segundo e trajetória com comprimento de 5 km a 10 km." Em termos gerais, existem dois tipos de relâmpagos: relâmpagos na nuvem (cerca de 70% do total) e relâmpagos no solo, que podem ser do tipo nuvem-solo ou solo-nuvem. Mais de 99 % dos relâmpagos no solo são relâmpagos nuvem-solo.
De acordo com o Inpe, a afirmação de que espelhos atraem raios não passa de um mito. O instituto também afirma que um relâmpago pode cair mais de uma vez no mesmo lugar. Outra curiosidade: em média, aviões comerciais são atingidos por relâmpagos uma vez por ano, em geral, durante procedimento de aterrissagem ou decolagem, em alturas inferiores a cerca de 5 km. "Como conseqüência, a fuselagem do avião sofre avarias superficiais", informou o Inpe.
Quanto vale um ano-luz?
O Ano-luz é uma medida de comprimento que corresponde à distância percorrida pela luz em um ano. "Isso significa, aproximadamento, a 9,5 trilhões de quilômetros", explica o físico Charles Bonatto, professor do Departamento de Astronomia do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Mais precisamente, são 9.460.536.207.068.016 de metros percorridos com uma velocidade de 299.792.458 metros por segundo durante 365 dias. Só pra ter uma idéia da rapidez, o tempo que a luz leva para percorrer os 149.597.870 de quilômetros que separam a Terra do Sol é de apenas 8,3 minutos.
Mais precisamente, são 9.460.536.207.068.016 de metros percorridos com uma velocidade de 299.792.458 metros por segundo durante 365 dias. Só pra ter uma idéia da rapidez, o tempo que a luz leva para percorrer os 149.597.870 de quilômetros que separam a Terra do Sol é de apenas 8,3 minutos.
O que é um buraco negro?
Simplificadamente, um buraco negro é um corpo celeste de massa muito grande para o espaço que ocupa, resultando um campo gravitacional tão forte do qual nem sequer a luz pode escapar.
"A matéria atraída pelo buraco negro em geral tem movimento angular, por isso é capturada por um disco, no qual fica girando até se precipitar no centro", explica a astrônoma da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Thaisa Storchi Bergmann.
O buraco negro ocorre, por exemplo, quando uma estrela não possui mais pressão suficiente para produzir uma força para fora que contrabalance o peso de suas camadas externas. "Essas camadas caem sobre as internas produzindo uma implosão que dá origem ao fenômeno", diz a astrônoma.
Os buracos negros são invisíveis por não emitirem radiação, por isso é impossível visualizá-los. No entanto, ele exerce força gravitacional sobre os corpos ao seu redor. Segundo Thaísa, só assim os astrônomos conseguem detectá-los.
"Devido à sua atração gravitacional, os buracos negros produzem movimento em corpos ao seu redor. Por meio desse movimento que é feita sua detecção", finaliza.
De onde vem o calor emitido pelo Sol?
A energia do Sol vem de seu núcleo, composto pelos gases hidrogênio e hélio. Reações nucleares transformam o hidrogênio em hélio e liberam uma enorme quantidade de energia. Essas reações são milhões de vezes mais poderosas do que as reações nucleares produzidas na Terra. E nosso planeta recebe apenas uma pequena parte da energia produzida.
Quando um gás é comprimido, ou pressionado, ele aquece. No Sol, a pressão é milhões de vezes maior do que a pressão na Terra. Toda essa pressão faz com que o hidrogênio atinja temperaturas de 15 milhões de graus centígrados no núcleo. Com o gás nessa temperatura e pressão, ocorrem as reações nucleares que mantém o Sol aquecido.
As reações nucleares transformam quatro prótons ou núcleos de átomos de hidrogênio em uma partícula alfa, que é o núcleo de um átomo de hélio. A partícula alfa tem aproximadamente 0,7% menos massa do que quatro prótons. A diferença em massa é expelida como energia, carregada até a superfície do Sol e liberada em forma de luz e calor. A energia gerada no interior do Sol leva um milhão de anos para chegar à superfície.
Segundo cientistas do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, "o Sol tem combustível suficiente para continuar produzindo energia por aproximadamente mais 5 bilhões de anos. No fim de sua vida, o Sol comecará a fundir o hélio em elementos mais pesados e se expandirá". Os pesquisadores acreditam que o Sol ficará tão grande que engolirá a Terra.
Como ocorrem os eclipses do Sol e da Lua?
"O principal elemento de um eclipse é a sombra. A luz proveniente de uma fonte luminosa, ao ser interrompida por um objeto, projeta no espaço oposto à fonte, uma zona escura denominada sombra", explica o físico Plínio Fasolo, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
A sombra de qualquer objeto é constituída por duas partes: a umbra, que é a parcela da sombra que não recebe luz alguma proveniente da fonte luminosa, e a penumbra, a parte da sombra que recebe a luz de partes da fonte luminosa, mas não de toda.
No caso do eclipse lunar, o Sol projeta sua luz sobre nosso planeta, e a Lua é ocultada pela umbra da Terra. Nessa situação a Lua esta experimentando a fase total do eclipse. Já enquanto ela transita pela penumbra da sombra da Terra, nas laterais da umbra, o eclipse da Lua é parcial.
Para explicar o eclipse solar, Fasolo destaca que o Sol é uma fonte de luz de dimensão imensa se comparada ao tamanho da Terra e da Lua. Por isso as sombras da Terra e da Lua, além de possuírem muita penumbra, possuem umbras em forma de cone.
"As sombras tanto da Lua como a da Terra se formam sempre do lado oposto ao do Sol, que é a fonte de luz. O cone de umbra da Terra é muito maior do que a distância da planeta à Lua."
Mas o professor esclarece que o cone de umbra da Lua é variável. Tem uma dimensão praticamente igual à sua distância da Terra. "Essa coincidência passa a ser responsável pela existência de dois tipos de eclipses do Sol produzidos pelo cone de umbra da Lua: o eclipse total do Sol e o eclipse anular."
Fasolo conta que ocorrerá um eclipse total do Sol na região da superfície da Terra ¿tocada¿ pela ponta do cone de umbra, quando esta sombra possuir dimensão maior do que a distância da Terra à Lua.
Já o eclipse será anular quando a dimensão do cone de sombra da Lua for um pouco menor do sua distância para a Terra, deixando por isso de tocar a superfície da Terra. "Nesse caso a Lua tapará a região central do disco solar deixando em torno um anel de luz."
O que havia antes do Big Bang? O universo é finito?
Por mais que as astronomia seja uma ciência que avança a cada dia, mutias perguntas continuam sem resposta, ou sem muitos indícios. É o caso de algumas sobre a origem e o tamanho do universo. A teoria mais aceita estima que ele formou-se cerca de 13,5 bilhões de anos atrás, com a explosão chamada Big Bang. Mas sobre o que havia antes e o tamanho do universo há poucas respostas.
"Quando extrapolamos a expansão do universo, observada atualmente, temos evidências de que ele deveria ser extremamente compacto e quente. Mas não temos como saber o que havia antes", afirma a a astrônoma da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Thaisa Storchi Bergmann.
Já sobre o tamanho do Universo, Bergmann é mais conclusiva. "Acredita-se sim que o universo seja finito, pois começou há 13,5 bilhões de anos e tem se expandido desde então ate um tamanho finito. Mas pode ser que, assim como existe o nosso Universo, existam outros com os quais não podemos nos comunicar ou observar."
Um dia o Sol pode explodir?
Não, uma catastrófica e repentina explosão solar nunca deve acontecer. Segundo a astrônoma da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Thaisa Storchi Bergmann, tal fenômeno acontece somente com estrelas cuja massa é de cinco a dez vezes maior do que a do Sol.
"Estrelas como o Sol morrem menos catastroficamente. O Sol, daqui a alguns bilhões de anos, vai comecar e expandir suas camadas externas, que se extenderão até a distância de Marte, aproximadamente", diz Thaisa.
Nesta fase ele vai se transformar numa estrela chamada de gigante vermelha. Neste momento todos estaremos mortos, pois a temperatura na Terra ficará muito alta, impedindo a vida no planeta.
"Depois, o Sol vai perder as camadas externas, chegando na fase de nebulosa planetária. O que sobrar será uma uma estrela muito compacta, com cerca de uma massa do Sol e compactada num raio igual ao da Terra, a chamada anã branca", explica.
Portanto, ao contrário das conhecidas supernovas, que morrem por meio de uma explosão, o Sol vai morrer aos poucos, terminando sua vida como uma estrela anã branca.
"Estrelas como o Sol morrem menos catastroficamente. O Sol, daqui a alguns bilhões de anos, vai comecar e expandir suas camadas externas, que se extenderão até a distância de Marte, aproximadamente", diz Thaisa.
Nesta fase ele vai se transformar numa estrela chamada de gigante vermelha. Neste momento todos estaremos mortos, pois a temperatura na Terra ficará muito alta, impedindo a vida no planeta.
"Depois, o Sol vai perder as camadas externas, chegando na fase de nebulosa planetária. O que sobrar será uma uma estrela muito compacta, com cerca de uma massa do Sol e compactada num raio igual ao da Terra, a chamada anã branca", explica.
Portanto, ao contrário das conhecidas supernovas, que morrem por meio de uma explosão, o Sol vai morrer aos poucos, terminando sua vida como uma estrela anã branca.
O que aconteceria se a Terra parasse de girar?
O assunto já foi tema de filmes sobre catástrofes, mas ainda assim causa incertezas na comunidade científica sobre suas reais conseqüências. Para o biólogo Wellinton Delitti, do Departamento de Ecologia do Instituto de Biociência da USP, se um dia a Terra parar de girar, o mais provável é a extinção total de vida no planeta.
Delitti acredita que o fenômeno começaria paralisando inicialmente o sistema climático, a circulação marinha e a vida dos seres humanos. Para ele, "uma área do planeta ficaria virada para o Sol, podendo ficar exposta a altas temperaturas, assim como outra parte ficaria totalmente escura, com a possibilidade de baixíssimas temperaturas".
Em razão disso, a possibilidade de algum ser vivo sobreviver seria bastante remota. "Talvez tivessem alguma chance os organismos que vivem no fundo do mar, próximos a abismos que expelem calor das profundezas da Terra, já que eles têm a vida baseada na quimiossíntese (que não depende da luz solar)."
Apesar disso, o biólogo destacou que o mais provável seria "uma catástrofe inimaginável que destruiria todo o ecossistema terrestre".
Já o professor Marcelo Knobel, do Instituto de Física da Unicamp, destaca que as circunstâncias do fim do movimento de rotação da Terra seriam determinantes.
"A Terra sairia de uma velocidade de aproximadamente 900 km/h (em latitude de 45°) para zero, causando uma forte freada, mas essa velocidade pode variar, dependendo da latitude."
Segundo ele, provavelmente os prédios e casas do mundo inteiro cairiam e uma espécie de terremoto assolaria a superfície terrestre. Já a gravidade não mudaria em absolutamente nada e poucas coisas seriam alteradas em relação a isso.
Knobel acrescentou ainda que o conceito de dia e noite sofreria graves mudanças, ou seja, o dia no planeta não teria mais um período de 24 horas, e sim, a duração de um ano. "Essa variação depende absolutamente da rotação terrestre", completou.
Delitti acredita que o fenômeno começaria paralisando inicialmente o sistema climático, a circulação marinha e a vida dos seres humanos. Para ele, "uma área do planeta ficaria virada para o Sol, podendo ficar exposta a altas temperaturas, assim como outra parte ficaria totalmente escura, com a possibilidade de baixíssimas temperaturas".
Em razão disso, a possibilidade de algum ser vivo sobreviver seria bastante remota. "Talvez tivessem alguma chance os organismos que vivem no fundo do mar, próximos a abismos que expelem calor das profundezas da Terra, já que eles têm a vida baseada na quimiossíntese (que não depende da luz solar)."
Apesar disso, o biólogo destacou que o mais provável seria "uma catástrofe inimaginável que destruiria todo o ecossistema terrestre".
Já o professor Marcelo Knobel, do Instituto de Física da Unicamp, destaca que as circunstâncias do fim do movimento de rotação da Terra seriam determinantes.
"A Terra sairia de uma velocidade de aproximadamente 900 km/h (em latitude de 45°) para zero, causando uma forte freada, mas essa velocidade pode variar, dependendo da latitude."
Segundo ele, provavelmente os prédios e casas do mundo inteiro cairiam e uma espécie de terremoto assolaria a superfície terrestre. Já a gravidade não mudaria em absolutamente nada e poucas coisas seriam alteradas em relação a isso.
Knobel acrescentou ainda que o conceito de dia e noite sofreria graves mudanças, ou seja, o dia no planeta não teria mais um período de 24 horas, e sim, a duração de um ano. "Essa variação depende absolutamente da rotação terrestre", completou.
Os planetas gigantes gasosos têm matéria sólida?
Júpiter e Saturno são conhecidos por serem gigantes gasosos. Isso significa, literalmente, que sua composição é dominada por gases, mais especificamente Hidrogênio e Hélio. Segundo a astrônoma Thaisa Storchi Bergmann, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), esses elementos químicos estão na fase gasosa nas camadas mais externas e na forma líquida em sua atmosfera mais interna.
Em Júpiter, o maior planeta do Sistema Solar, a relação entre Hidrogênio e Hélio na atmosfera é, aproximadamente, 86% e 14%, respectivamente. Já em saturno, o segundo maior e conhecido por seus anéis, os valores mudam para cerca de 90% de Hidrogênio, 5% de Hélio e 5% de outros elementos. Mas com um volume de gases tão grande, é possível afirmar que exista matéria sólida nesses planetas?
Segundo Thaisa, sim. "Estima-se que, dentro de um raio de aproximadamente 20% do raio total de cada planeta, exista rocha, cuja composição é dominada pelos elementos químicos Ferro e Níquel", explicou. Os planetas Urano e Netuno, apesar de serem conhecidos por sua composição formada predominantemente por rochas e gelo, também têm uma parte considerável de gases em sua atmosfera.
Em Júpiter, o maior planeta do Sistema Solar, a relação entre Hidrogênio e Hélio na atmosfera é, aproximadamente, 86% e 14%, respectivamente. Já em saturno, o segundo maior e conhecido por seus anéis, os valores mudam para cerca de 90% de Hidrogênio, 5% de Hélio e 5% de outros elementos. Mas com um volume de gases tão grande, é possível afirmar que exista matéria sólida nesses planetas?
Segundo Thaisa, sim. "Estima-se que, dentro de um raio de aproximadamente 20% do raio total de cada planeta, exista rocha, cuja composição é dominada pelos elementos químicos Ferro e Níquel", explicou. Os planetas Urano e Netuno, apesar de serem conhecidos por sua composição formada predominantemente por rochas e gelo, também têm uma parte considerável de gases em sua atmosfera.
(Biologia)Qual é a árvore mais alta da Terra?
O ser vivo mais alto da Terra é uma árvore no norte do Estado da Califórnia, nos Estados Unidos. Apelidada de Hyperion, a sequóia gigante de 115 m bateu o recorde de árvore mais alta do mundo, e tirou o posto da Stratosphere Giant (112,83 m).
A Hyperion foi descoberta no Parque Nacional Redwood, ao norte de São Francisco, no fim do ano passado por uma equipe de cientistas americanos, que se dedicou a percorrer as florestas localizadas na região litorânea da Califórnia.
Segundo o naturalista Chris Atkins, que descobriu a Stratosphere no ano 2000, os cientistas já encontraram até hoje cerca de 135 sequóias que chegam a mais de 100 m. O descobrimento surpreendeu os especialistas, porque estes não esperavam encontrar mais árvores de grande porte nesta zona.
O local, durante anos, serviu de área de extração para empresas madeireiras e também não cumpre com as condições que, até agora, tinham sido pensadas como idôneas para abrigar as espécies de árvores gigantes.
A Califórnia é também o berço da árvore mais volumosa do mundo, a sequóia gigante General Sherman, no Parque Nacional das Sequóias, e da mais velha, chamada Matusalém, que tem cerca de 4.650 anos.
Árvore mais antiga do BrasilA árvore mais antiga do País é um jequitibá-rosa do Parque Estadual de Vassununga, que se localiza no município de Santa Rita do Passa Quatro, a 253 km de São Paulo. Com aproximadamente 3 mil anos de idade, a árvore tem 40 m de altura e cerca de 3.60 m de diâmetro.
Segundo a Prefeitura do município, a quantidade de madeira produzida por este jequitibá-rosa seria de 190 m3, o que poderia construir aproximadamente 15 mil cadeiras. Estima-se que o exemplar é do ano de 1020 a.C..
A Hyperion foi descoberta no Parque Nacional Redwood, ao norte de São Francisco, no fim do ano passado por uma equipe de cientistas americanos, que se dedicou a percorrer as florestas localizadas na região litorânea da Califórnia.
Segundo o naturalista Chris Atkins, que descobriu a Stratosphere no ano 2000, os cientistas já encontraram até hoje cerca de 135 sequóias que chegam a mais de 100 m. O descobrimento surpreendeu os especialistas, porque estes não esperavam encontrar mais árvores de grande porte nesta zona.
O local, durante anos, serviu de área de extração para empresas madeireiras e também não cumpre com as condições que, até agora, tinham sido pensadas como idôneas para abrigar as espécies de árvores gigantes.
A Califórnia é também o berço da árvore mais volumosa do mundo, a sequóia gigante General Sherman, no Parque Nacional das Sequóias, e da mais velha, chamada Matusalém, que tem cerca de 4.650 anos.
Árvore mais antiga do BrasilA árvore mais antiga do País é um jequitibá-rosa do Parque Estadual de Vassununga, que se localiza no município de Santa Rita do Passa Quatro, a 253 km de São Paulo. Com aproximadamente 3 mil anos de idade, a árvore tem 40 m de altura e cerca de 3.60 m de diâmetro.
Segundo a Prefeitura do município, a quantidade de madeira produzida por este jequitibá-rosa seria de 190 m3, o que poderia construir aproximadamente 15 mil cadeiras. Estima-se que o exemplar é do ano de 1020 a.C..
O que é o soluço e por que ele aparece?
O soluço é uma respiração com espasmos provocada pelo súbito fechamento da glote (abertura localizada na laringe, que serve de passagem de ar para os pulmões) junto com uma contração repentina e involuntária do diafragma, músculo que separa o tórax do abdome e está relacionado à respiração. Normalmente, o soluço não causa problemas para a saúde e desaparece espontaneamente em alguns minutos.
Segundo o médico Tarcísio Mota, até mesmo os bebês no útero podem ter soluços. "O soluço pode aparecer quando você come muito rápido, porque engole ar junto com a comida, ou quando enche o estômago demais e acaba irritando o diafragma", disse Mota.
Para se livrar do soluço, é possível utilizar algumas técnicas bem simples, como respirar em um saco de papel durante alguns minutos, fazer gargarejos com água fria e prender a respiração pelo máximo de tempo que conseguir. Outra opção é deitar de bruços por um tempo, pois essa posição faz com que a respiração se torne mais intensa, forçando o diafragma a voltar a funcionar normalmente.
Por que a barriga ronca quando estamos com fome?
De onde vem aquele incômodo ronco que nossa barriga faz quando precisamos comer? O gastroenterologista Antônio Frederico Magalhães, da Faculdade de Medicina da Unicamp, em São Paulo, explica que a mistura de ar e líquido existente dentro do estômago provoca o barulho por causa de uma movimentação que ocorre em pequenos intervalos de tempo.
Segundo ele, quando uma pessoa está em jejum e o organismo percebe que está precisando de alimento, o próprio estômago começa a produzir mais ácido e pepsina - a enzima digestiva - que estimula contrações musculares denominadas de peristaltismo. "Estas contrações provocadas pelos movimentos peristálticos chacoalham o líquido e o ar, formando o ruído estranho, quando atravessa o abdômen", informou.
Para Magalhães, não são todas as pessoas que possuem os "roncos" e não há como definir quais tipos de indivíduos produzem o som. "São contrações fisiológicas e naturais que não significam que estamos doentes", afirmou.
As pessoas com o organismo mais sensível também podem produzir o barulho, assim como os indivíduos que não possuem uma alimentação saudável e comem alimentos gordurosos e artificiais.
"Quem tem uma alimentação mais adequada não produz o ruído com tanta regularidade", completou o professor.
(Física)Como se forma um arco-íris?
Um arco-íris aparece quando a luz branca do sol é interceptada por uma gota d'água da atmosfera. Parte da luz é refratada para dentro da gota, refletida no seu interior e novamente refratada para fora da gota. A luz branca é uma mistura de várias cores. Quando a luz atravessa uma superfície líquida - no caso, a gota da chuva - ou sólida (transparente), a refração faz aparecer o espectro de cores: violeta, anil, azul, verde, amarelo, laranja e vermelho.
"Quando a luz do sol atravessa um trecho de chuva, ela é refletida e refratada no interior das gotas e devolvida em várias cores ao ambiente", segundo o Departamento de Física da USP. Mas o arco-íris não existe realmente. Ele é uma ilusão de óptica cuja posição aparente depende da posição do observador. Todas as gotas de chuva refratam e refletem a luz do sol da mesma forma, mas somente a luz de algumas delas chega ao olho do observador.
Segundo cientistas, ás vezes é possível que um segundo arco-íris, mais fraco, possa ser visto fora do arco-íris principal. Esse raro fenômeno ocorre quando há dupla reflexão da luz do sol nas gotas de chuva. Devido à reflexão extra, as cores do arco são invertidas quando comparadas com o arco-íris principal.
"Quando a luz do sol atravessa um trecho de chuva, ela é refletida e refratada no interior das gotas e devolvida em várias cores ao ambiente", segundo o Departamento de Física da USP. Mas o arco-íris não existe realmente. Ele é uma ilusão de óptica cuja posição aparente depende da posição do observador. Todas as gotas de chuva refratam e refletem a luz do sol da mesma forma, mas somente a luz de algumas delas chega ao olho do observador.
Segundo cientistas, ás vezes é possível que um segundo arco-íris, mais fraco, possa ser visto fora do arco-íris principal. Esse raro fenômeno ocorre quando há dupla reflexão da luz do sol nas gotas de chuva. Devido à reflexão extra, as cores do arco são invertidas quando comparadas com o arco-íris principal.
(Física)Qual a diferença entre ciclone, furacão e tufão?
O devastador ciclone Nargis, que nesta semana atingiu Mianmar (país do sudeste da Ásia), não é diferente de um tufão ou furacão. Na verdade, trata-se de nomes diferentes para um mesmo fenômeno climático básico.
Os chamados ciclones, tufões e furacões são todos tempestades giratórias violentas que, coletivamente, ganham o nome de ciclones tropicais. Eles se formam sobre águas tropicais quentes e a velocidade do vento no olho do ciclone pode chegar a 120 km por hora.
As tempestades são nomeadas de acordo com listas sazonais mantidas pelas agências de meteorologia responsáveis por monitorar a bacia onde os ciclones se formam.
Os furacões começam no Atlântico, Caribe e noroeste do Pacífico, enquanto tufões formam-se no oeste do Pacífico e no sudeste do Oceano Índico. Se um desses "monstros" se desenvolve em certas partes do Oceano Índico ou em parte do sudoeste do Oceano Pacífico, ele se encaixa em uma das três variações do termo genérico ciclone.
Tufões, furacões e ciclones giram todos na mesma direção, anti-horária, se forem formados no hemisfério norte. As tempestades que giram no sentido horário formam-se no hemisfério sul, apesar de serem extremamente raras na bacia do Atlântico e mais comuns no Oceano Índico e na costa da Austrália, segundo informações do site LiveScience.
(Química)Por que o sabão preto produz espuma branca?
Alguns tipos de sabão ou sabonete utilizados para higiene pessoal ou para limpeza em geral são colocados no mercado sob as mais variadas cores, inclusive o preto, para chamar a atenção dos consumidores. Mas por que a espuma que ele gera é sempre branca?
O professor de química orgânica Augusto Donato, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) explica que a espuma possui a cor branca por causa de um processo natural determinado a partir da utilização do sabão.
Segundo ele, o sabão é um sal formado por ácido graxo incolor que gera um processo responsável por segurar o ar junto das moléculas de água quando é agitado, movimentado, fermentado ou fervido. Este efeito produz as bolhas que formam a espuma.
"Não é o corante colocado no produto que vai determinar a cor da espuma, e sim, a composição do sabão em si, que também é branca", diz Donato. As moléculas do corante, determinantes para a coloração, ficam à parte das moléculas do sabão que produzem o tom natural da espuma. O pigmento fica retido apenas às moléculas da massa do produto.
Donato discorda sobre a possibilidade de algumas empresas colocarem corantes que produzam a cor branca apenas para causar a sensação de limpeza aos consumidores. "Alguns aditivos podem ser adicionados para aumentar ou diminuir a quantidade de espuma do produto, mas não de sua cor", destaca.
O professor de química orgânica Augusto Donato, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) explica que a espuma possui a cor branca por causa de um processo natural determinado a partir da utilização do sabão.
Segundo ele, o sabão é um sal formado por ácido graxo incolor que gera um processo responsável por segurar o ar junto das moléculas de água quando é agitado, movimentado, fermentado ou fervido. Este efeito produz as bolhas que formam a espuma.
"Não é o corante colocado no produto que vai determinar a cor da espuma, e sim, a composição do sabão em si, que também é branca", diz Donato. As moléculas do corante, determinantes para a coloração, ficam à parte das moléculas do sabão que produzem o tom natural da espuma. O pigmento fica retido apenas às moléculas da massa do produto.
Donato discorda sobre a possibilidade de algumas empresas colocarem corantes que produzam a cor branca apenas para causar a sensação de limpeza aos consumidores. "Alguns aditivos podem ser adicionados para aumentar ou diminuir a quantidade de espuma do produto, mas não de sua cor", destaca.
(Química)Qual é a função do luminol nas perícias criminais?
Em meio às investigações do Instituto de Criminalística de São Paulo (IC) após a violenta morte da menina Isabella Nardoni, 5 anos, surge uma dúvida: como os peritos descobriram as marcas de sangue da criança no carro e no apartamento do pai e da madrasta, Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá?
Para Sérgio Pohlmann, perito criminalístico especializado em química legal, do Instituto Geral de Perícias do Rio Grande do Sul (IGP), o luminol, um produto químico especial capaz de fazer aparecer traços de sangue até então invisíveis a olho nu, é um dos equipamentos mais utilizados pelos investigadores para revelar cenas ocultas de um crime.
"O luminol, aplicado com borrifadores especiais, descobre os resquícios sanguíneos ao ter contato com a hemoglobina, identificando o ferro presente no sangue por meio da geração de uma intensa luz azul que pode ser vista em um local escuro ou no momento em que se apaga a luz do ambiente", explica.
Ele diz que a técnica é tão eficaz que pode encontrar os vestígios de sangue "mesmo em locais onde um criminoso tentou eliminar as pistas, usando fortes produtos de limpeza".
O processo químico que a substância provoca é chamado de quimiluminescência, fenômeno similar ao que faz vaga-lumes e bastões luminosos brilharem.
O professor Valter Stefani, do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), explica como o processo químico funciona: dois ou três reagentes são misturados e um deles se decompõe, no caso o luminol, emitindo uma luz ao ser colocado em contato com a área onde está o sangue.
"É praticamente impossível alguém limpar o sangue de uma forma que o luminol não consiga identificá-lo", destaca. Segundo ele, "em uma pia completamente branca que seja várias vezes lavada com água e sabão, mesmo assim a substância encontrará indícios quando tiver sangue".
De acordo com o perito Sérgio Pohlmann, assim que a substância se mistura à hemoglobina, o tempo para a luz radiante se tornar visível é de cerca de 5 segundos. "A sua utilização é muito importante porque auxilia o perito na hora de levantar todos os vestígios para solucionar um crime. A partir das manchas de sangue, pode-se sugerir uma dinâmica do que teria acontecido", informa.
No caso do luminol revelar os traços aparentes, analisa o perito, "os investigadores fotografam ou filmam a cena do crime para registrar as evidências ou recolhem as amostras de sangue, se houver necessidade de fazer teste de DNA para verificar quem estaria envolvido".
Pohlmann afirma que também existem algumas restrições ao uso do luminol, como não poder colocá-lo em locais onde existem substâncias metálicas. "Como ele identifica o ferro, a superfície metálica interfere no resultado da perícia, pois pode dar uma pista positiva e falsa", avalia. Além disso, a reação química produzida por esta substância específica pode destruir outras evidências na cena do crime.
O perito acredita que, apesar do luminol chegar a uma identificação confiável, a investigação criminal também necessita de várias outras análises para obter-se um resultado final. "Em alguns casos é necessário fazer diversas perícias complementares porque o luminol não é capaz de desvendar, sozinho, um crime", completa.
Por que o rabo da lagartixa cresce depois de cair?
Uma lagartixa sem a cauda não é algo que se possa ver regularmente. Mas a maioria das pessoas já ouviu dizer que "se a lagartixa perde o rabo, ele cresce de novo". Como explica o biólogo do zoológico de São Paulo, Guilherme Domenichelli, a lagartixa pode perder a cauda, ou rabo, de propósito.
O biólogo informa que a lagartixa, assim como a grande maioria dos lagartos, têm a capacidade de soltar o rabo como mecanismo de defesa contra o ataque de seus predadores. "A cauda cai e fica se mexendo por alguns segundos para chamar a atenção do predador. Enquanto isso, o animal tenta se salvar do perigo, escapando para algum refúgio em que não possa mais ser visto", afirma.
Essa capacidade é chamada de autotomia caudal e ocorre em outros animais, como insetos, crustáceos e répteis. "Após algum tempo, dependendo da espécie, a cauda passa por um processo de regeneração e cresce novamente, mas nunca mais ficará do tamanho original", diz Domenichelli. O interior do membro não será mais feito de osso e terá um outro tipo de tecido cartilaginoso.
Segundo o biólogo, "o animal poderá utilizar a técnica novamente, mas a cada autotomia, o rabo da lagartixa ficará cada vez mais curto".
Em alguns dos ossos que formam a cauda existe um ponto onde ocorre o desprendimento natural, ou seja, caso a lagartixa faça uma força neste local, o rabo se parte instantaneamente e se solta. De acordo com o especialista, se alguém resolver cortar o rabo da lagartixa, a regeneração dependerá da região do corte. "A cauda tem um ponto de quebra definido. Se não for cortada nesse local, não haverá a regeneração e o animal terá que viver sem a cauda", explica. No caso de ser apenas puxado, o rabo se partirá naturalmente no ponto de quebra.
Ainda que seja um eficiente mecanismo de defesa, Domenichelli garante que a estratégia da lagartixa nem sempre funciona. "É claro que muitas vezes ela não consegue passar seus predadores para trás e acaba sendo abatida".
Melhor amiga do homemSegundo Guilherme Domenichelli, apesar de ter uma aparência estranha, a lagartixa é injustamente considerada por muitos como um animal transmissor de doenças. "Essa espécie não transmite doença nenhuma e é uma lenda quando dizem que ela passa cobreiro para as pessoas".
Inclusive, destaca o biólogo, a lagartixa se torna uma grande amiga do homem ao ser "uma grande predadora dos filhotes de baratas e outros insetos que realmente podem transmitir doenças".
PerfilA lagartixa gosta de lugares mais quentes porque não consegue manter a temperatura em seu corpo, que é sempre igual à do ambiente
. Com hábito noturno, a espécie possui as pupilas em forma de fenda de forma que possa se locomover bastante e captar toda a luz do local onde está para caçar insetos perto das janelas das casas ou apartamentos.
As lagartixas procuram frestas nas paredes das residências, onde ficam durante o dia e também colocam seus ovos. A maior espécie, que habita o sul da Ásia, pode chegar a 25 cm de comprimento.
O biólogo informa que a lagartixa, assim como a grande maioria dos lagartos, têm a capacidade de soltar o rabo como mecanismo de defesa contra o ataque de seus predadores. "A cauda cai e fica se mexendo por alguns segundos para chamar a atenção do predador. Enquanto isso, o animal tenta se salvar do perigo, escapando para algum refúgio em que não possa mais ser visto", afirma.
Essa capacidade é chamada de autotomia caudal e ocorre em outros animais, como insetos, crustáceos e répteis. "Após algum tempo, dependendo da espécie, a cauda passa por um processo de regeneração e cresce novamente, mas nunca mais ficará do tamanho original", diz Domenichelli. O interior do membro não será mais feito de osso e terá um outro tipo de tecido cartilaginoso.
Segundo o biólogo, "o animal poderá utilizar a técnica novamente, mas a cada autotomia, o rabo da lagartixa ficará cada vez mais curto".
Em alguns dos ossos que formam a cauda existe um ponto onde ocorre o desprendimento natural, ou seja, caso a lagartixa faça uma força neste local, o rabo se parte instantaneamente e se solta. De acordo com o especialista, se alguém resolver cortar o rabo da lagartixa, a regeneração dependerá da região do corte. "A cauda tem um ponto de quebra definido. Se não for cortada nesse local, não haverá a regeneração e o animal terá que viver sem a cauda", explica. No caso de ser apenas puxado, o rabo se partirá naturalmente no ponto de quebra.
Ainda que seja um eficiente mecanismo de defesa, Domenichelli garante que a estratégia da lagartixa nem sempre funciona. "É claro que muitas vezes ela não consegue passar seus predadores para trás e acaba sendo abatida".
Melhor amiga do homemSegundo Guilherme Domenichelli, apesar de ter uma aparência estranha, a lagartixa é injustamente considerada por muitos como um animal transmissor de doenças. "Essa espécie não transmite doença nenhuma e é uma lenda quando dizem que ela passa cobreiro para as pessoas".
Inclusive, destaca o biólogo, a lagartixa se torna uma grande amiga do homem ao ser "uma grande predadora dos filhotes de baratas e outros insetos que realmente podem transmitir doenças".
PerfilA lagartixa gosta de lugares mais quentes porque não consegue manter a temperatura em seu corpo, que é sempre igual à do ambiente
. Com hábito noturno, a espécie possui as pupilas em forma de fenda de forma que possa se locomover bastante e captar toda a luz do local onde está para caçar insetos perto das janelas das casas ou apartamentos.
As lagartixas procuram frestas nas paredes das residências, onde ficam durante o dia e também colocam seus ovos. A maior espécie, que habita o sul da Ásia, pode chegar a 25 cm de comprimento.
Homero e a busca da virtude (parte II)
É muito citado entre os estudiosos da ética dos gregos, o registro feito por Homero do testemunho do velho Nestor, o único idoso e sábio que acompanha os aqueus no sítio que moviam à cidade de Tróia, (Canto XI da Ilíada), relatando um encontro que ele assistira um tanto antes da guerra, no palácio do rei Peleu, o pai de Aquiles. Na cerimônia em que o filho apresentava seus respeitos para ir acompanhar Agamêmnon e Menelau na missão de resgatar Helena das mãos dos troianos, o pai aconselhou-o "a ser sempre o melhor (aristeuein) e estar acima dos demais". Que o jovem buscasse através de façanhas inauditas, vir poder exercer a sua virtude (areté). Galgar algo que fosse merecedor do reconhecimento dos seus pares para, com isso, ter assento no reino dos heróis imortais, aqueles que jamais saíam da lembrança dos homens.
O modelo dos heróis
O que a ética de Homero propõe é o cultivo de um modelo, a do Homem Perfeito, o Homem de Bronze. Um ser raro que não se guia pela lei comum nem é obediente ao convencional; é o fora de série que não somente se sobressai entre os demais como faz ele mesmo as regras que pretende seguir. Não são os carneiros balindo em rebanho quem o inspiram, mas sim a solidão altiva do lobo e a bravura o leão. É um herói que, mesmo sem qualquer amparo dos deuses, deve responder sozinho aos desafios que surgem e vingar as desonras que por acaso o submetem. Ele é superior. Recebeu uma herança honrada, de escol, a qual precisa manter imaculada, sem as manchas da covardia e da deserção.(*)
O seu esforço era ampliar o nome herdado por meio de uma fama ainda maior dos que o antecederam. De estatura elevada, de notável vigor físico, belo, destro com as armas e com os cavalos, varonil, ágil e astuto, partilhando os despojos de guerra com os amigos, piedoso para com deuses e implacável para com os inimigos, servia como exemplo a todos. Devia sempre considerar que era melhor conquistar a celebridade numa só ação, numa proeza impressionante, ainda que correndo perigos mil, do que deixar correr o restante da vida sem um brilho, sem um feito, sem nada. Preferível viver pouco deixando legenda, como foi o caso de Aquiles, do que muito tempo e não ser ninguém. (**) Todos os demais cavaleiros deviam segui-lo nessa decisão. As gerações que se sucedem teriam sempre o seu nome na lembrança, invocando-o em meio à batalha, inspirando-se nos feitos de outrora. Essa era a verdadeira imortalidade que um herói poderia almejar. Jamais ele seria apagado da memória dos seus e na de todos os que o sucederão pelas idades ainda por vir.
(*) Nietzsche, filósofo contemporâneo, iria fazer reviver esse ethos aristocrático na construção do super-homem, o que estará "acima do bem e do mal", olhando com desprezo os vencidos e os fracos (ver "Assim Falou Zaratustra", 1883)
(**) "Quem está impregnado de estima própria antes quer viver em breve espaço no mais alto gozo que passar uma longa existência em indolente repouso; prefere viver um ano só por um fim nobre que uma larga vida por nada; escolhe antes escutar uma única ação grande e magnífica, a fazer uma série de pequenas insignificâncias."
O homem excelente e o homem vulgar
A busca da areté, é portanto, um atributo exclusivo do homem de valor, do que se destaca e ascende entre tantos outros. Na ética guerreira de Homero não se cogitava que nascidos de ventre ordinário pudessem almejar tal prêmio. Ao de baixa origem era reservado um destino anônimo de um figurante sem brilho. Quando a morte o apanhava em meio ao tumulto da batalha não havia dor nem luto, era um simples ninguém que jamais seria incluído no Livro dos Heróis. Tudo era diferente quando um guerreiro invulgar, um notável reconhecido por todos, era abatido. Por vezes, até o combate cessava em sinal de sincero respeito frente à triste notícia de tamanha perda. Aquiles, em homenagem póstuma a Pátroclo, seu companheiro de aventuras, desaparecido do mundo dos vivos por obra do gládio de Heitor, príncipe de Tróia, decide honrá-lo na cerimônia final de cremação do corpo com jogos e disputas viris. Distribui entre os competidores vencedores, parte considerável do seu patrimônio: "caldeiras, trípodes, cavalos, mulas, bois, belas mulheres, armas e talentos de ouro" (Canto XXIII – Os funerais de Pátroclo).
Alcançar a areté, a virtude que irá imortalizar o guerreiro, não é pois um apanágio de todos eles. O verdadeiro opositor do demandante não é nem nunca foi o homem comum (demiurgói), mas sim um outro seu igual, nobre como ele. Ainda que pertençam a uma casta especial, tida como a dos melhores homens (aristói), somente uns poucos se qualificarão. Heitor, em seus derradeiros momentos, ao ver que a morte lhe chegava, disse: "Agora, meu destino encontrou-me. Que eu não pereça docilmente, sem bravura e sem glória, mas praticando um grande feito para os ouvidos das gerações que hão de vir" (Canto XXII, 304-5).
Nem o escravo nem aquele que algum dia foi homem de origem ilustre mas tornou-se escravo (pois os deuses removem dele o que lhe restara da areté), poderá sequer sonhar com tal aspiração. Esses pobres estão condenados ao esquecimento. A vida deles foi-se como uma folha ao vento, sem deixar saudades ou qualquer outra lembrança. É frente aos seus pares que o herói irá colher o "reconhecimento" e o "prestígio" que lhe é devido. Somente ao vitorioso é que poderemos chamar de monarca dos aristocratas. (*)
(*) O tema de haver um duelo primeiro entre iguais que depois, conforme quem vença ou saia derrotado, irão se separar para sempre, um como senhor o outro como escravo, foi exposto por Hegel numa célebre passagem da "Fenomenologia do Espírito" (IV- A – "A independência e dependência da consciência de si: Dominação e Escravidão", editado em de 1807). O vitorioso, por sua vez, dali em diante, como "consciência para si", sempre terá que se mostrar, exibindo-se frente aos seus pares, os vitoriosos de outros duelos, "a outra consciência", para merecer deles o "respeito" e o "reconhecimento".
Alcançar a areté, a virtude que irá imortalizar o guerreiro, não é pois um apanágio de todos eles. O verdadeiro opositor do demandante não é nem nunca foi o homem comum (demiurgói), mas sim um outro seu igual, nobre como ele. Ainda que pertençam a uma casta especial, tida como a dos melhores homens (aristói), somente uns poucos se qualificarão. Heitor, em seus derradeiros momentos, ao ver que a morte lhe chegava, disse: "Agora, meu destino encontrou-me. Que eu não pereça docilmente, sem bravura e sem glória, mas praticando um grande feito para os ouvidos das gerações que hão de vir" (Canto XXII, 304-5).
Nem o escravo nem aquele que algum dia foi homem de origem ilustre mas tornou-se escravo (pois os deuses removem dele o que lhe restara da areté), poderá sequer sonhar com tal aspiração. Esses pobres estão condenados ao esquecimento. A vida deles foi-se como uma folha ao vento, sem deixar saudades ou qualquer outra lembrança. É frente aos seus pares que o herói irá colher o "reconhecimento" e o "prestígio" que lhe é devido. Somente ao vitorioso é que poderemos chamar de monarca dos aristocratas. (*)
(*) O tema de haver um duelo primeiro entre iguais que depois, conforme quem vença ou saia derrotado, irão se separar para sempre, um como senhor o outro como escravo, foi exposto por Hegel numa célebre passagem da "Fenomenologia do Espírito" (IV- A – "A independência e dependência da consciência de si: Dominação e Escravidão", editado em de 1807). O vitorioso, por sua vez, dali em diante, como "consciência para si", sempre terá que se mostrar, exibindo-se frente aos seus pares, os vitoriosos de outros duelos, "a outra consciência", para merecer deles o "respeito" e o "reconhecimento".
Viver é Combater
Aquela exortação do pai orgulhoso a um filho que parte para a guerra continha a essência dos objetivos de um nobre, de um fidalgo: devotar-se na busca da excelência, sobrelevar-se, tornar-se alguém memorável. Todo o Código do Cavaleiro que por séculos iria orientar a aristocracia helênica baseava-se pois apenas nisso: a obrigação de tentar ser alguém extraordinário, inesquecível, cuja fama correria o mundo. Nada mais podia vir a interessar um autêntico guerreiro, que para tanto devia ser provido de thymos, o ânimo, impulso que dará início a sua legenda. Tal como um tablado serve para um ator expor seu histrionismo, o campo de batalha serve como um amplo teatro onde, aos olhos dos demais valentes, ele demonstra suas habilidades e virtudes excepcionais; corajoso na refrega, magnânimo na vitória. O teste definitivo se dava em meio aos gritos lancinantes dos feridos, ao cheiro forte do sangue derramado, do relinchar selvagem dos corcéis, da gritaria geral de fúria, de horror ou de êxtase da soldadesca em meio ao Campo de Marte. O confronto singular era, por assim dizer, o exercício obrigatório que ele devia cumprir na conquista da areté. Viver é Combater!
Ressalte-se que a pugna somente merecerá o registro, só ficará na história e no canto do rapsodo, se ela se der entre os da mesma estirpe: um nobre de linhagem, de sangue aristocrático. É entre leões que se dá a embate. Só um deles merecerá os louros sagrados da vitória. Nenhum valor lhes seria acrescentado à fama enfiar uma lança num peito plebeu, gastar o fio da lâmina num infante qualquer, num anônimo que ninguém sabe de onde veio. Entre os tantos encontros na arena relatados por Homero ao longo da Ilíada (os que envolvem morte e ferimentos são mais de 140 registros, descritos um a um pelo gênio poético dele), merece a atenção o de Glauco (um jovem guerreiro lício.filho de Anfilioques, que lutava do lado troiano) com o enfurecido Diomedes (filho de Tideo, um espadachim terrível que veio junto com os gregos, e que além da ferocidade natural era protegido pela deusa Atena). Um pouco antes de chocarem suas carruagens, Glauco responde à indagação do rival sobre sua linhagem: expõe então ao inimigo em detalhes de como ele descendia de casa ilustre, como corria sangue puro em suas veias, herdado do sábio Belerofonte, o quanto ele se qualificava para aquele duelo mortal. Um bravo mais do que merecedor de estar ali na liça provocando o famoso Diomedes. (*)
(*) ...se queres ser bem informado acerca do meu nascimento, há uma cidade, Efira, num recanto de Argos, onde se criam cavalos, e ali foi a morada de Sísifo.....Hipoloco foi meu pai. Mandou-me a Tróia e recomendou-me muitas vezes que me destacasse e sobrepujasse os demais, e não envergonhasse a raça do meu pai, a mais valente em Efira e na vasta Lícia. Desta raça e deste sangue eu me orgulho de ser."(Diomedes então, reconhecendo que fora amigo daquela família, confraternizando com Glauco, propõe que eles apertem as mãos e façam uma trégua entre eles)[Canto VI da Ilíada].
Ressalte-se que a pugna somente merecerá o registro, só ficará na história e no canto do rapsodo, se ela se der entre os da mesma estirpe: um nobre de linhagem, de sangue aristocrático. É entre leões que se dá a embate. Só um deles merecerá os louros sagrados da vitória. Nenhum valor lhes seria acrescentado à fama enfiar uma lança num peito plebeu, gastar o fio da lâmina num infante qualquer, num anônimo que ninguém sabe de onde veio. Entre os tantos encontros na arena relatados por Homero ao longo da Ilíada (os que envolvem morte e ferimentos são mais de 140 registros, descritos um a um pelo gênio poético dele), merece a atenção o de Glauco (um jovem guerreiro lício.filho de Anfilioques, que lutava do lado troiano) com o enfurecido Diomedes (filho de Tideo, um espadachim terrível que veio junto com os gregos, e que além da ferocidade natural era protegido pela deusa Atena). Um pouco antes de chocarem suas carruagens, Glauco responde à indagação do rival sobre sua linhagem: expõe então ao inimigo em detalhes de como ele descendia de casa ilustre, como corria sangue puro em suas veias, herdado do sábio Belerofonte, o quanto ele se qualificava para aquele duelo mortal. Um bravo mais do que merecedor de estar ali na liça provocando o famoso Diomedes. (*)
(*) ...se queres ser bem informado acerca do meu nascimento, há uma cidade, Efira, num recanto de Argos, onde se criam cavalos, e ali foi a morada de Sísifo.....Hipoloco foi meu pai. Mandou-me a Tróia e recomendou-me muitas vezes que me destacasse e sobrepujasse os demais, e não envergonhasse a raça do meu pai, a mais valente em Efira e na vasta Lícia. Desta raça e deste sangue eu me orgulho de ser."(Diomedes então, reconhecendo que fora amigo daquela família, confraternizando com Glauco, propõe que eles apertem as mãos e façam uma trégua entre eles)[Canto VI da Ilíada].
Homero e a busca da virtude
É muito citado entre os estudiosos da ética dos gregos, o registro feito por Homero do testemunho do velho Nestor, o único idoso e sábio que acompanha os aqueus no sítio que moviam à cidade de Tróia, (Canto XI da Ilíada), relatando um encontro que ele assistira um tanto antes da guerra, no palácio do rei Peleu, o pai de Aquiles. Na cerimônia em que o filho apresentava seus respeitos para ir acompanhar Agamêmnon e Menelau na missão de resgatar Helena das mãos dos troianos, o pai aconselhou-o "a ser sempre o melhor (aristeuein) e estar acima dos demais". Que o jovem buscasse através de façanhas inauditas, vir poder exercer a sua virtude (areté). Galgar algo que fosse merecedor do reconhecimento dos seus pares para, com isso, ter assento no reino dos heróis imortais, aqueles que jamais saíam da lembrança dos homens.
Herança infeliz
Che durante seu momento mais glorioso O resultado dessa luta, entretanto, foi trágico, visto que, os que, na América Latina, escolheram o caminho da transformação pela luta guerrilheira amargaram um triste final, pois os novos regimes implantados, no caso de Cuba e da Nicarágua, não conseguiram superar a pobreza e as dificuldades materiais que os seus países herdaram de tempos remotos.
Esse fracasso, todavia, não ensombrou a imagem de Che Guevara que, para todos os efeitos, restou intacta, sendo reproduzida em pôsteres, camisas, boinas, bottoms e até como marca de cerveja. Virou grife da sociedade de consumo contra quem ele também moveu guerra.
A morte de Che Guevara
Morto a tiros nos fundões da Bolívia no dia 9 de outubro de 1967, o argentino Ernesto "Che" Guevara tombou como um mártir da causa da revolução latino-americana.
O seu nome, que atingiu proporções mitológicas universais, está intimamente ligado aos levantes anticolonialistas das décadas de cinqüenta e sessenta do século XX que se espalharam pela África, Ásia e América Latina.
O seu nome, que atingiu proporções mitológicas universais, está intimamente ligado aos levantes anticolonialistas das décadas de cinqüenta e sessenta do século XX que se espalharam pela África, Ásia e América Latina.
Protestos e explosões por todos os lados
Protestos e explosões por todos os lados
Escombros de discoteca atingida por atentado na ilha de Bali
A resposta a isso da parte dos muçulmanos, a essa sistemática humilhação, tem sido um crescente número de sangrentos e arrasadores atentados à bomba nas capitais ocidentais (metrô de Madri e metrô de Londres), e em locais paradisíaco freqüentados pela juventude dourada ocidental ou por turistas europeus (a Ilha de Bali, na Indonésia, e em Amã, na Jordânia), com centenas de mortos, o que leva a um acirramento ainda maior do ódio entre os Euro-americanos e a gente do Islã.
Outras manifestações não tão violentas, por igual, sacudiram a periferia de Paris, os chamados banlieues de l'islam, onde rapazes desocupados, em sua maioria descendentes de árabes, incendiaram milhares de automóveis e lutaram contra esquadrões policiais. Do outro lado do mundo, na Austrália, foi à vez dos jovens anglo-saxões lançarem-se em operação de linchamento contra "os libaneses", considerados como "invasores" do espaço praiano deles, configurando-se assim um enfrentamento cada vez mais globalizado entre ocidentais e muçulmanos.
A "guerra das caricaturas", em andamento, só pode vicejar num ambiente onde as sensibilidades e aflições estão à flor da pele como ocorre entre os muçulmanos. Eriçados com a situação de inferioridade e impotência a que estão reduzidos, tendo que enfrentar as maiores potências ocidentais coligadas contra eles, explodem em protestos de massa ou em ações barulhentas contra o que consideram ser uma agressão ao Islã.
Escombros de discoteca atingida por atentado na ilha de Bali
A resposta a isso da parte dos muçulmanos, a essa sistemática humilhação, tem sido um crescente número de sangrentos e arrasadores atentados à bomba nas capitais ocidentais (metrô de Madri e metrô de Londres), e em locais paradisíaco freqüentados pela juventude dourada ocidental ou por turistas europeus (a Ilha de Bali, na Indonésia, e em Amã, na Jordânia), com centenas de mortos, o que leva a um acirramento ainda maior do ódio entre os Euro-americanos e a gente do Islã.
Outras manifestações não tão violentas, por igual, sacudiram a periferia de Paris, os chamados banlieues de l'islam, onde rapazes desocupados, em sua maioria descendentes de árabes, incendiaram milhares de automóveis e lutaram contra esquadrões policiais. Do outro lado do mundo, na Austrália, foi à vez dos jovens anglo-saxões lançarem-se em operação de linchamento contra "os libaneses", considerados como "invasores" do espaço praiano deles, configurando-se assim um enfrentamento cada vez mais globalizado entre ocidentais e muçulmanos.
A "guerra das caricaturas", em andamento, só pode vicejar num ambiente onde as sensibilidades e aflições estão à flor da pele como ocorre entre os muçulmanos. Eriçados com a situação de inferioridade e impotência a que estão reduzidos, tendo que enfrentar as maiores potências ocidentais coligadas contra eles, explodem em protestos de massa ou em ações barulhentas contra o que consideram ser uma agressão ao Islã.
Novo ciclo de violência
Novo ciclo de violência
A fundação do Estado de Israel, cuja existência fora aprovada pela ONU em 1947, provocou um novo ciclo de reações hostis em todo o Oriente Médio. A presença de um estado sionista na área da antiga Palestina indignou os povos árabes. A isto se juntou o fato do quadrilátero árabe tornar-se fronte da Guerra Fria após os dramáticos acontecimentos provocados pela nacionalização do Canal de Suez determinada por Nasser, em 1956.Ouve então um claro alinhamento ideológico: a URSS tratou de apoiar o nacionalismo árabe emergente, enquanto os Estados Unidos, desde o anúncio da Doutrina Eisenhower, de 1957(que repelia a intromissão soviética no Oriente Médio) posicionou-se a favor do Estado de Israel e da Monarquia Saudita. Deste modo, os desertos e as antiqüíssimas cidades da Mesopotâmia, da Síria e do Egito, viraram peças no grande tabuleiro do enfrentamento mundial entre Moscou e Washington.
A importância do Oriente Médio, como área estratégica, aumentou ainda mais devido à crescente dependência ocidental e dos seus aliados mais próximos para com o petróleo árabe-iraniano. É isso que faz com que qualquer tumulto que por lá ocorra mereça a atenção da mídia internacional. Gradativamente aquela infeliz região tomou o lugar que antes era ocupado pelos Bálcãs na Europa, isto é, um caldeirão gerador de problemas e de guerras que parecem não ter fim. Para os povos do Levante, a presença israelense e o apoio ocidental ao projeto sionista configuram a existência de uma Nova Cruzada, tendo os seguidores de Maomé como vítimas.Cruzada essa que somente pode ser respondida pelo apelo a jihad, à Guerra Santa. Observam que desta feita, ao contrário da investida medieval, interessa ao Ocidente o controle direto das jazidas petrolíferas e seus arredores. O que a faz sobrepor-se às antigas motivações religiosas dos tempos anteriores.
No presente momento, como desdobramento do ataque suicida da Al-Qaeda (o informal braço vingador do Islã) aos prédios de Nova York e Washington, no 11 de setembro de 2001, dois países muçulmanos, o Afeganistão e o Iraque, invadidos e semidestruídos, encontram-se sob ocupação militar de uma coligação de países cristãos-ocidentais (Estados Unidos, Grã-Bretanha, Itália, Polônia, etc..), o mesmo se dando com o território da Cisjordânia, povoado majoritariamente por palestinos, sob controle israelense desde 1967. Isso sem esquecer-se que a parte árabe de Jerusalém, onde se ergue a sagrada Mesquita de Omar, está sob supervisão da polícia israelense, sendo fonte de tumultos sem-fim.
A fundação do Estado de Israel, cuja existência fora aprovada pela ONU em 1947, provocou um novo ciclo de reações hostis em todo o Oriente Médio. A presença de um estado sionista na área da antiga Palestina indignou os povos árabes. A isto se juntou o fato do quadrilátero árabe tornar-se fronte da Guerra Fria após os dramáticos acontecimentos provocados pela nacionalização do Canal de Suez determinada por Nasser, em 1956.Ouve então um claro alinhamento ideológico: a URSS tratou de apoiar o nacionalismo árabe emergente, enquanto os Estados Unidos, desde o anúncio da Doutrina Eisenhower, de 1957(que repelia a intromissão soviética no Oriente Médio) posicionou-se a favor do Estado de Israel e da Monarquia Saudita. Deste modo, os desertos e as antiqüíssimas cidades da Mesopotâmia, da Síria e do Egito, viraram peças no grande tabuleiro do enfrentamento mundial entre Moscou e Washington.
A importância do Oriente Médio, como área estratégica, aumentou ainda mais devido à crescente dependência ocidental e dos seus aliados mais próximos para com o petróleo árabe-iraniano. É isso que faz com que qualquer tumulto que por lá ocorra mereça a atenção da mídia internacional. Gradativamente aquela infeliz região tomou o lugar que antes era ocupado pelos Bálcãs na Europa, isto é, um caldeirão gerador de problemas e de guerras que parecem não ter fim. Para os povos do Levante, a presença israelense e o apoio ocidental ao projeto sionista configuram a existência de uma Nova Cruzada, tendo os seguidores de Maomé como vítimas.Cruzada essa que somente pode ser respondida pelo apelo a jihad, à Guerra Santa. Observam que desta feita, ao contrário da investida medieval, interessa ao Ocidente o controle direto das jazidas petrolíferas e seus arredores. O que a faz sobrepor-se às antigas motivações religiosas dos tempos anteriores.
No presente momento, como desdobramento do ataque suicida da Al-Qaeda (o informal braço vingador do Islã) aos prédios de Nova York e Washington, no 11 de setembro de 2001, dois países muçulmanos, o Afeganistão e o Iraque, invadidos e semidestruídos, encontram-se sob ocupação militar de uma coligação de países cristãos-ocidentais (Estados Unidos, Grã-Bretanha, Itália, Polônia, etc..), o mesmo se dando com o território da Cisjordânia, povoado majoritariamente por palestinos, sob controle israelense desde 1967. Isso sem esquecer-se que a parte árabe de Jerusalém, onde se ergue a sagrada Mesquita de Omar, está sob supervisão da polícia israelense, sendo fonte de tumultos sem-fim.
A guerra das caricaturas: Ocidente versus Oriente
A guerra das caricaturas: Ocidente versus Oriente
Numa provocação infantil e irresponsável, um jornal conservador da Dinamarca, o Jyllands-Posten publicou em 30 de setembro de 2005 uma bateria de 12 caricaturas ridicularizando o profeta Maomé. Logo foram reproduzidas por um diário na Noruega, seguida por outros jornais europeus. Foi o que bastou para que uma tempestade de cólera e indignação varresse o Islã contra os dois países nórdicos (que simbolicamente têm a cruz na sua bandeira). Tanto na Europa como no restante do Mundo.
Uma tempestade de fúria
Em Jacarta, capital da Indonésia, e em Damasco, capital da Síria, multidões furiosas lançara-se contra as embaixadas dinamarquesa e norueguesa aos gritos de blasfêmia. O mesmo deu-se no dia 4 de fevereiro de 2006 em Beirute, capital do Líbano, sendo que desta feita foi um consulado que viu-se totalmente depredado por uma turba de jovens coléricos. No Iêmen, 10 mil mulheres desfilaram em protesto. A Líbia e a Arábia Saudita retiram seus embaixadores de Copenhagen. Esta "guerra das caricaturas", é mais um desdobramento da crescente tensão que separa cada vez mais o Ocidente do Islã.
Desde que Napoleão realizou sua famosa campanha do Egito, nos finais do século XVIII, o Oriente Médio transformou-se num palco das rivalidades dos impérios europeus. O alvo do general francês não era controlar as populações muçulmanas ou mesmo extrair algum proveito das riquezas locais, mais sim infringir um dano estratégico à Grã-Bretanha, então arquiinimiga da França Republicana (o famoso corso pensou, ao ocupar o delta do Nilo, isolá-la das suas possessões na Índia). Os povos locais, egípcios, palestinos ou sírios, não contavam, muito menos os interesses deles. O Islã de então se encontrava estagnado, afundado no atraso das suas areias sagradas.
No passado, todavia, não fora assim. A espada do Profeta, indo à frente da expansão do islamismo, intensa desde o século VII, provocara pânico na Europa, a ponto do historiador Fernand Braudel assegurar que todos lá viraram cristãos naquela ocasião por medo da presença avassaladora dos que seguiam Maomé. Submeter-se ao Crescente significava para os europeus avassalar-se a um chefe mouro, dar seus bens e sua alma a uma fé estranha, ser servo da gente bárbara e ascética do deserto. Um mundo que nada tinha a haver com o deles.
Daí entender-se a popularidade das Cruzadas, desencadeadas pelo Papado com auxilio dos cavaleiros cristãos, a partir do século XI, para recuperar os lugares santos em Jerusalém que, segundo os cristãos, estariam sendo profanados pela presença dos infiéis. Como também explicar a fúria antiislâmica de Dante, o maior poeta da cristandade, que reservou um lugar pavoroso no inferno para lá colocar um Maomé destripado e submetido a torturas perpétuas (A Divina Comédia, Canto 28).Quanto tempo demandou para que a sensação da ameaça dos mouros declinasse? Séculos supõem-se. O deslocamento do eixo comercial das cidades mercantis da Europa para o Atlântico (é simbólico que tenha sido um navegante genovês quem tenha descoberto o Novo Mundo e que um outro tenha desbravado a América do Norte) acelerou o esquecimento em que o Oriente Médio foi relegado pela Europa em expansão.
A decadência do Oriente Médio
Desde tempos muito remotos, os povos e as cidades daquela região haviam assumido o papel de intermediários entre o Oriente e o Ocidente, fazendo do mar Mediterrâneo um lago intercomunicante entre os dois hemisférios comerciais: o Europeu e o Oriental. Ora, com a exploração e conquista do oceano Atlântico, a partir dos finais do século XV, e dos outros mares que a seguiram, o Oriente Médio perdeu a função de intermediação entre os dois hemisférios. Um dos efeitos disso, no campo das idéias, foi que os notáveis filósofos dos tempos medievais, um Avicena, um Al Farrabi, um Averróis, não tiveram sucessores no campo árabe. A ciência que desenvolveram, as artes médicas que tanto os celebrizaram, entraram em decadência ou simplesmente murcharam. Exatamente o contrário do que se passou no Ocidente.
Abriu-se então, com a estagnação geral que por lá se instalou, o caminho para a hegemonia teológica dos imãs, os sacerdotes islâmicos, que mantiveram o Oriente Médio aferrado às leituras ortodoxas do Corão. O que, evidentemente, significou o fim das respeitáveis conquistas racionalistas alcançadas anteriormente, nos tempos do apogeu dos califados de Damasco, de Bagdá e de Córdoba, e bloqueou ou inviabilizou a possível conversão do Oriente Médio ao Iluminismo.
No século XIX, com a aceleração da expansão colonialista, a África do Norte e o antigo Levante novamente viraram tabuleiro dos interesses estratégicos das potências européias. Napoleão fizera escola. A Argélia sucumbiu aos franceses em 1830, no começo da década de 1880, foi à vez dos britânicos se assenhorearem do Egito, e, em seguida, do Sudão, enquanto a Itália se apropriava da Líbia, em 1911. Em pouco tempo a África e o Oriente Médio, como se fossem pedaços de bolo, caíram devorados pela boca do colonialismo.
A Palestina, o Líbano-Síria e a Mesopotâmia, que até então fora parte do Império Otomano, foi partilhado pelos anglo-franceses depois da Primeira Guerra Mundial (desdobramento do acordo secreto Sikes-Picot, de 1916), pondo fim as esperanças dos chefes árabes em alcançar a tão almejada independência. Até 1945 quase tudo por lá era inglês ou francês.
As lideranças muçulmanas se dividiram. Os religiosos mais teimosos inclinaram-se em rejeitar tudo aquilo que viesse do Ocidente, inclusive as inovações tecnológicas, tais como o telégrafo e o telefone, abjurando-os como instrumentos satânicos. Uma minoria da elite mais esclarecida, ao contrário, acreditou que somente aprofundando a ocidentalização, adotando os meios administrativos, educacionais e tecnológicos dos colonialistas, haveria uma possibilidade de adquirir algum dia a autonomia econômica e a liberdade política para o povo do Islã.
A situação do pós-Segunda Guerra Mundial
Até 1945, os dois Impérios Colônias, o britânico e o francês mantinham-se no controle de milhares de quilômetros quadrados de território islâmico, área que se estendia das margens do oceano Atlântico, ao ocidente, até o mar Arábico no oriente. Território esse que se valorizara de um modo extraordinário devido às constantes descobertas de novos lençóis petrolíferos (os subsolos da Arábia Saudita, do Kuwait, dos Emirados Árabes, do Iraque e do Irã comportam 60% das reservas petrolíferas do mundo).
Quando os colonialistas foram forçados a recuar, ambos trataram ou de resistir (Guerra da Argélia, 1956-1960) ou de formar monarquias dóceis ao colaboracionismo (dinastia Hachemita, que controlou a Jordânia e o Iraque, entre 1920-1960, e a do rei Faruk, no Egito). Situação que levou ao levante nacionalista do coronel Gamal Nasser no Cairo, de 1952, e a uma série de golpes militares que seguiram na mesma linha de emancipação (como o do general Karim Kassem no Iraque, em 1958, e o de Muhammad Kadafi, na Líbia, em 1969).
O recuo do colonialismo europeu, todavia, não trouxe a esperada paz para a região. Bem ao contrário.
Numa provocação infantil e irresponsável, um jornal conservador da Dinamarca, o Jyllands-Posten publicou em 30 de setembro de 2005 uma bateria de 12 caricaturas ridicularizando o profeta Maomé. Logo foram reproduzidas por um diário na Noruega, seguida por outros jornais europeus. Foi o que bastou para que uma tempestade de cólera e indignação varresse o Islã contra os dois países nórdicos (que simbolicamente têm a cruz na sua bandeira). Tanto na Europa como no restante do Mundo.
Uma tempestade de fúria
Em Jacarta, capital da Indonésia, e em Damasco, capital da Síria, multidões furiosas lançara-se contra as embaixadas dinamarquesa e norueguesa aos gritos de blasfêmia. O mesmo deu-se no dia 4 de fevereiro de 2006 em Beirute, capital do Líbano, sendo que desta feita foi um consulado que viu-se totalmente depredado por uma turba de jovens coléricos. No Iêmen, 10 mil mulheres desfilaram em protesto. A Líbia e a Arábia Saudita retiram seus embaixadores de Copenhagen. Esta "guerra das caricaturas", é mais um desdobramento da crescente tensão que separa cada vez mais o Ocidente do Islã.
Desde que Napoleão realizou sua famosa campanha do Egito, nos finais do século XVIII, o Oriente Médio transformou-se num palco das rivalidades dos impérios europeus. O alvo do general francês não era controlar as populações muçulmanas ou mesmo extrair algum proveito das riquezas locais, mais sim infringir um dano estratégico à Grã-Bretanha, então arquiinimiga da França Republicana (o famoso corso pensou, ao ocupar o delta do Nilo, isolá-la das suas possessões na Índia). Os povos locais, egípcios, palestinos ou sírios, não contavam, muito menos os interesses deles. O Islã de então se encontrava estagnado, afundado no atraso das suas areias sagradas.
No passado, todavia, não fora assim. A espada do Profeta, indo à frente da expansão do islamismo, intensa desde o século VII, provocara pânico na Europa, a ponto do historiador Fernand Braudel assegurar que todos lá viraram cristãos naquela ocasião por medo da presença avassaladora dos que seguiam Maomé. Submeter-se ao Crescente significava para os europeus avassalar-se a um chefe mouro, dar seus bens e sua alma a uma fé estranha, ser servo da gente bárbara e ascética do deserto. Um mundo que nada tinha a haver com o deles.
Daí entender-se a popularidade das Cruzadas, desencadeadas pelo Papado com auxilio dos cavaleiros cristãos, a partir do século XI, para recuperar os lugares santos em Jerusalém que, segundo os cristãos, estariam sendo profanados pela presença dos infiéis. Como também explicar a fúria antiislâmica de Dante, o maior poeta da cristandade, que reservou um lugar pavoroso no inferno para lá colocar um Maomé destripado e submetido a torturas perpétuas (A Divina Comédia, Canto 28).Quanto tempo demandou para que a sensação da ameaça dos mouros declinasse? Séculos supõem-se. O deslocamento do eixo comercial das cidades mercantis da Europa para o Atlântico (é simbólico que tenha sido um navegante genovês quem tenha descoberto o Novo Mundo e que um outro tenha desbravado a América do Norte) acelerou o esquecimento em que o Oriente Médio foi relegado pela Europa em expansão.
A decadência do Oriente Médio
Desde tempos muito remotos, os povos e as cidades daquela região haviam assumido o papel de intermediários entre o Oriente e o Ocidente, fazendo do mar Mediterrâneo um lago intercomunicante entre os dois hemisférios comerciais: o Europeu e o Oriental. Ora, com a exploração e conquista do oceano Atlântico, a partir dos finais do século XV, e dos outros mares que a seguiram, o Oriente Médio perdeu a função de intermediação entre os dois hemisférios. Um dos efeitos disso, no campo das idéias, foi que os notáveis filósofos dos tempos medievais, um Avicena, um Al Farrabi, um Averróis, não tiveram sucessores no campo árabe. A ciência que desenvolveram, as artes médicas que tanto os celebrizaram, entraram em decadência ou simplesmente murcharam. Exatamente o contrário do que se passou no Ocidente.
Abriu-se então, com a estagnação geral que por lá se instalou, o caminho para a hegemonia teológica dos imãs, os sacerdotes islâmicos, que mantiveram o Oriente Médio aferrado às leituras ortodoxas do Corão. O que, evidentemente, significou o fim das respeitáveis conquistas racionalistas alcançadas anteriormente, nos tempos do apogeu dos califados de Damasco, de Bagdá e de Córdoba, e bloqueou ou inviabilizou a possível conversão do Oriente Médio ao Iluminismo.
No século XIX, com a aceleração da expansão colonialista, a África do Norte e o antigo Levante novamente viraram tabuleiro dos interesses estratégicos das potências européias. Napoleão fizera escola. A Argélia sucumbiu aos franceses em 1830, no começo da década de 1880, foi à vez dos britânicos se assenhorearem do Egito, e, em seguida, do Sudão, enquanto a Itália se apropriava da Líbia, em 1911. Em pouco tempo a África e o Oriente Médio, como se fossem pedaços de bolo, caíram devorados pela boca do colonialismo.
A Palestina, o Líbano-Síria e a Mesopotâmia, que até então fora parte do Império Otomano, foi partilhado pelos anglo-franceses depois da Primeira Guerra Mundial (desdobramento do acordo secreto Sikes-Picot, de 1916), pondo fim as esperanças dos chefes árabes em alcançar a tão almejada independência. Até 1945 quase tudo por lá era inglês ou francês.
As lideranças muçulmanas se dividiram. Os religiosos mais teimosos inclinaram-se em rejeitar tudo aquilo que viesse do Ocidente, inclusive as inovações tecnológicas, tais como o telégrafo e o telefone, abjurando-os como instrumentos satânicos. Uma minoria da elite mais esclarecida, ao contrário, acreditou que somente aprofundando a ocidentalização, adotando os meios administrativos, educacionais e tecnológicos dos colonialistas, haveria uma possibilidade de adquirir algum dia a autonomia econômica e a liberdade política para o povo do Islã.
A situação do pós-Segunda Guerra Mundial
Até 1945, os dois Impérios Colônias, o britânico e o francês mantinham-se no controle de milhares de quilômetros quadrados de território islâmico, área que se estendia das margens do oceano Atlântico, ao ocidente, até o mar Arábico no oriente. Território esse que se valorizara de um modo extraordinário devido às constantes descobertas de novos lençóis petrolíferos (os subsolos da Arábia Saudita, do Kuwait, dos Emirados Árabes, do Iraque e do Irã comportam 60% das reservas petrolíferas do mundo).
Quando os colonialistas foram forçados a recuar, ambos trataram ou de resistir (Guerra da Argélia, 1956-1960) ou de formar monarquias dóceis ao colaboracionismo (dinastia Hachemita, que controlou a Jordânia e o Iraque, entre 1920-1960, e a do rei Faruk, no Egito). Situação que levou ao levante nacionalista do coronel Gamal Nasser no Cairo, de 1952, e a uma série de golpes militares que seguiram na mesma linha de emancipação (como o do general Karim Kassem no Iraque, em 1958, e o de Muhammad Kadafi, na Líbia, em 1969).
O recuo do colonialismo europeu, todavia, não trouxe a esperada paz para a região. Bem ao contrário.
Cultura e pensamento
Charles Baudelaire
Críticos e Ensaístas da Cultura Ocidental - Charles Baudelaire
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A série de biografias de críticos e ensaístas da moderna cultura ocidental é uma relação eclética. Nela constam historiadores, críticos, ensaístas e escritores das mais diversas procedências (alemães, americanos, brasileiros, espanhóis, franceses, ingleses, italianos, latino-americanos, suíços) identificados com a crítica ,com a história da cultura e com a teoria das artes (arquitetura, pintura, escultura ou música). De um modo geral, podemos classificá-los, no trato como abordam as artes e a cultura, entre os que seguem a escola sociológica, os da escola estética/simbológica e, por fim, os da escola psicológica. Conheça um pouco mais sobre Charles Baudelaire.
Charles Baudelaire
Poeta extraordinário e crítico cultural. Generoso e profético, em meio ao vexame de uma infeliz estréia de uma ópera de Wagner em Paris, enalteceu o compositor como um poderoso intérprete da modernidade. Um dos nomes maiores do Movimento Simbolista, com dois ensaios tidos como clássicos no gênero, celebrizou-se como um dos primeiros teóricos das artes em traçar as linhas gerais da Era Modernista. Neles definiu como modernidade tudo o que é transitório, fugitivo, circunstancial e contingente. Em contraposição à estética de Aristóteles fixada no perene, no imutável, na beleza imorredoura, sempre na busca da harmonia, da ordem , da simetria e do ritmo, o artista contemporâneo se move para captar o fugaz, o que logo se esvaziará, o incidental, aquilo que logo deixará de ser e de existir.
Trata-se de uma estética que decorreu da época do barco a vapor, da locomotiva, do telégrafo e da fotografia, do vem-e-vai alucinante da vida nas grandes metrópoles, das multidões anônimas que se cruzam nas avenidas tomadas pela volúpia da moda, do que é e do que já foi. O desafio dos que se lançam nas artes é captar o momento passageiro e escorregadio, que se vai com o vento ou com o vôo dos pássaros. Como retratar ou reproduzir a multiplicidade da vida moderna com a chega incessante de novidades? Como flagrar o que passou como um raio? Como extrair o eterno do transitório? Somente por meio de imagens metafóricas isso seria possível. Era através de parábolas, já dissera Goethe, que o transitório poderia ser dito. Para isso procurou aproximar a poesia da pintura atrás de vínculos que lhes identificassem as afinidades ocultas, invisíveis, para que a linguagem pudesse fazer uso da imagem pictórica e assim habilitar-se a corresponder a sua função de retratar o seu tempo... esquivo, inaudito, moderno enfim. O poeta de hoje, portanto, fará seus versos de fragmentos de palavras encontradas nas ruas, de letreiros, de coisas mal lidas, de um sussurro ou de um grito, de um bilhete encontrado na calçada ou de um pedaço de jornal velho.
Obras: "O Salão de 1845"; "O Salão de 1846"; "Richard Wagner e Tannhäuser em Paris" (1861); "A arte romântica" e Curiosidades Estéticas "(ambas publicações póstumas, de 1868).
A Política
As revoluções liberais: a americana de 1776 e a francesa de 1789 (Parte II)
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As revoluções liberais: a americana de 1776 e a francesa de 1789 (Parte I)
As primeiras declarações de direitos
Sob o ponto de vista da modernidade constitucional e para a liberdade contemporânea, o que mais importa são os documentos que começaram a surgir a partir do século XVII, sendo o primeiro deles a Petição de 1628, que o parlamento inglês enviou ao desastrado rei Carlos I (que seria mais tarde decapitado durante a revolução puritana, em 1649). Nessa petição, os cidadãos reclamam dos impostos ilegais, do aboletamento dos soldados em casas de gente boa e nas prisões sem justa causa. Dado o comportamento incorrigível dos seus reis, os parlamentares ingleses tiveram que apresentar uma outra, a Bill of Rights, de 1689, que visava limitar ainda mais a autoridade real, bem como impedir que, dali em diante, o Parlamento fosse fechado a qualquer pretexto. Tais liberdades conquistadas pelos britânicos encantaram não apenas seus vizinhos franceses (como bem atestam os testemunhos de Montesquieu, de Voltaire e de Rousseau), como terminaram por inspirar os colonos ingleses da América do Norte a também lutar pela conquista da sua independência.A partir de 1776, até 1784, seis colônias americanas rebeladas (Virgínia, Maryland, Carolina do Norte, Vermon, Massachusetts e New Hampshire) resolveram proclamar não só os seus direitos bem como encarregar o talentoso Thomas Jefferson a redigir uma desaforada carta de independência - aprovada em 4 de julho de 1776 - em que, entre outras coisas, afirmava que o governo de Sua Majestade britânica deveria promover a felicidade dos seus súditos e que, se ele não o fizesse, eles, os seus súditos americanos, teriam todo o direito de pegar em armas e se libertar.
As primeiras dez emendas de 1791
O marques de Lafayette, elo de ligação
Em 1789, os norte-americanos, iluminados pelos acontecimentos de Paris, deram-se conta que sua constituição, a constituição da união, aprovada na Convenção em Filadélfia em 1787, não tinha uma Declaração de Direitos. Foi então que, por ação de Thomas Jefferson, resolveram agregar a ela, em forma de emendas constitucionais consagradas por eles como de Bill of Rights , dez artigos que garantissem ao homem comum americano "claramente e sem ajuda de sofismas", como registrou o incansável Thomas Jefferson: "a liberdade de religião, liberdade de imprensa, a proteção contra o exército permanente, o habeas corpus e o julgamento pelo júri". Ele estava vivamente impressionado pelos acontecimentos da França, onde se encontrava como embaixador, ocasião em que colocou a sua residência à disposição para que um grupo de deputados franceses tivessem um lugar tranqüilo para debater os artigos a serem redigidos e depois aprovados pelos seus colegas. Entre os vários parlamentares franceses que lhe solicitavam sugestões, estava o marquês de La Fayette.
Os historiadores franceses preferem, no entanto, minimizar a influência americana ou anglo-saxã na redação da sua famosa Declaração. Atribuem a ela preocupações "universais", querendo alcançar o mundo por inteiro, acusando as outras, as inglesas e as americanas, de serem mais limitadas, pontuais e exclusivistas, um queixume contra um rei insensível. Os americanos, por sua vez, asseguram que as suas são mais "práticas" enquanto a francesa se revela excessivamente "abstrata", carregada de princípios metafísicos difíceis de serem aplicados.
A Declaração e os Direitos Humanos
Conde de Mirabeau (1749-1791) Deixando de lado essa polêmica cansativa e patrioteira, é inegável que a Declaração francesa de 1789 ganhou o mundo e foi a real inspiradora da atual política de Direitos Humanos. É bom lembrar que os franceses redigiram e aprovaram duas outras declarações: uma em 1793 e outra em 1795. Se a primeira mostrava a arrogância do burguês, sequioso de liberdade e desprezando o Estado (daí vedar-lhe o direito de prender sem processo formal e dividi-lo em três outros poderes), separando os direitos, em humanos (igual para todos) e do cidadão (apanágio de alguns), a de 1793 é considerada como aquela que se preocupou com os aspectos sociais. Fruto da ingerência jacobina, foi ampliada para 35 artigos, sendo o último uma peça subversiva de primeira grandeza, porque praticamente induz os cidadãos à rebelião contra o governo. "A insurreição é para o povo", diz o artigo, "o mais sagrado dos direitos e o mais indispensável dos deveres".Derrubado Robespierre em 27 de julho de 1794, pelo Golpe do 9 do Termidor, e formada a Convenção Termidoriana, votou-se uma outra declaração que continha, além dos tradicionais direitos, os deveres, aprovada em setembro de 1795 e que foi incluída na Constituição do ano III (foi aplicada na maioria dos territórios europeus conquistados por Napoleão).A sedução que a grande Declaração de 1789 exerceu sobre o imaginário popular marcou o direito constitucional moderno. Praticamente todas as cartas contemporâneas fazem referência, diretamente ou não, a ela. Mesmo Lenin, envolvido nas tormentas da Revolução Russa de 1917, não resistiu aos seus encantos. Apesar de desprezá-la por sua origem classista e preocupação elitista, inspirou-se nela para redigir, em plena confusão revolucionária, uma "Declaração dos Direitos do Povo Trabalhador e Explorado", com quatro artigos apenas, e que ele desejava colocar como preâmbulo na Carta Constitucional que estava em elaboração ainda em princípios de 1918.
Sumário da Revolução Americana
Thomas Jefferson (1743-1826)
Data
4 de julho de 1776
Documentos
Declaração de Independência de 1776 e as Dez Emendas de 1791
Os líderes
George Washington, Thomas Jefferson, Alexander Hamilton, John Adams, Benjamin Franklin
Constituição
1787 , na Filadélfia
Regime
República presidencialista e federativa, reconhecido pelo Tratado de Paris de 1783
Auxilio externo
Marquês de Lafayette
Sumário da Revolução Francesa de 1789
Leia mais
As revoluções liberais: a americana de 1776 e a francesa de 1789 (Parte I)
As primeiras declarações de direitos
Sob o ponto de vista da modernidade constitucional e para a liberdade contemporânea, o que mais importa são os documentos que começaram a surgir a partir do século XVII, sendo o primeiro deles a Petição de 1628, que o parlamento inglês enviou ao desastrado rei Carlos I (que seria mais tarde decapitado durante a revolução puritana, em 1649). Nessa petição, os cidadãos reclamam dos impostos ilegais, do aboletamento dos soldados em casas de gente boa e nas prisões sem justa causa. Dado o comportamento incorrigível dos seus reis, os parlamentares ingleses tiveram que apresentar uma outra, a Bill of Rights, de 1689, que visava limitar ainda mais a autoridade real, bem como impedir que, dali em diante, o Parlamento fosse fechado a qualquer pretexto. Tais liberdades conquistadas pelos britânicos encantaram não apenas seus vizinhos franceses (como bem atestam os testemunhos de Montesquieu, de Voltaire e de Rousseau), como terminaram por inspirar os colonos ingleses da América do Norte a também lutar pela conquista da sua independência.A partir de 1776, até 1784, seis colônias americanas rebeladas (Virgínia, Maryland, Carolina do Norte, Vermon, Massachusetts e New Hampshire) resolveram proclamar não só os seus direitos bem como encarregar o talentoso Thomas Jefferson a redigir uma desaforada carta de independência - aprovada em 4 de julho de 1776 - em que, entre outras coisas, afirmava que o governo de Sua Majestade britânica deveria promover a felicidade dos seus súditos e que, se ele não o fizesse, eles, os seus súditos americanos, teriam todo o direito de pegar em armas e se libertar.
As primeiras dez emendas de 1791
O marques de Lafayette, elo de ligação
Em 1789, os norte-americanos, iluminados pelos acontecimentos de Paris, deram-se conta que sua constituição, a constituição da união, aprovada na Convenção em Filadélfia em 1787, não tinha uma Declaração de Direitos. Foi então que, por ação de Thomas Jefferson, resolveram agregar a ela, em forma de emendas constitucionais consagradas por eles como de Bill of Rights , dez artigos que garantissem ao homem comum americano "claramente e sem ajuda de sofismas", como registrou o incansável Thomas Jefferson: "a liberdade de religião, liberdade de imprensa, a proteção contra o exército permanente, o habeas corpus e o julgamento pelo júri". Ele estava vivamente impressionado pelos acontecimentos da França, onde se encontrava como embaixador, ocasião em que colocou a sua residência à disposição para que um grupo de deputados franceses tivessem um lugar tranqüilo para debater os artigos a serem redigidos e depois aprovados pelos seus colegas. Entre os vários parlamentares franceses que lhe solicitavam sugestões, estava o marquês de La Fayette.
Os historiadores franceses preferem, no entanto, minimizar a influência americana ou anglo-saxã na redação da sua famosa Declaração. Atribuem a ela preocupações "universais", querendo alcançar o mundo por inteiro, acusando as outras, as inglesas e as americanas, de serem mais limitadas, pontuais e exclusivistas, um queixume contra um rei insensível. Os americanos, por sua vez, asseguram que as suas são mais "práticas" enquanto a francesa se revela excessivamente "abstrata", carregada de princípios metafísicos difíceis de serem aplicados.
A Declaração e os Direitos Humanos
Conde de Mirabeau (1749-1791) Deixando de lado essa polêmica cansativa e patrioteira, é inegável que a Declaração francesa de 1789 ganhou o mundo e foi a real inspiradora da atual política de Direitos Humanos. É bom lembrar que os franceses redigiram e aprovaram duas outras declarações: uma em 1793 e outra em 1795. Se a primeira mostrava a arrogância do burguês, sequioso de liberdade e desprezando o Estado (daí vedar-lhe o direito de prender sem processo formal e dividi-lo em três outros poderes), separando os direitos, em humanos (igual para todos) e do cidadão (apanágio de alguns), a de 1793 é considerada como aquela que se preocupou com os aspectos sociais. Fruto da ingerência jacobina, foi ampliada para 35 artigos, sendo o último uma peça subversiva de primeira grandeza, porque praticamente induz os cidadãos à rebelião contra o governo. "A insurreição é para o povo", diz o artigo, "o mais sagrado dos direitos e o mais indispensável dos deveres".Derrubado Robespierre em 27 de julho de 1794, pelo Golpe do 9 do Termidor, e formada a Convenção Termidoriana, votou-se uma outra declaração que continha, além dos tradicionais direitos, os deveres, aprovada em setembro de 1795 e que foi incluída na Constituição do ano III (foi aplicada na maioria dos territórios europeus conquistados por Napoleão).A sedução que a grande Declaração de 1789 exerceu sobre o imaginário popular marcou o direito constitucional moderno. Praticamente todas as cartas contemporâneas fazem referência, diretamente ou não, a ela. Mesmo Lenin, envolvido nas tormentas da Revolução Russa de 1917, não resistiu aos seus encantos. Apesar de desprezá-la por sua origem classista e preocupação elitista, inspirou-se nela para redigir, em plena confusão revolucionária, uma "Declaração dos Direitos do Povo Trabalhador e Explorado", com quatro artigos apenas, e que ele desejava colocar como preâmbulo na Carta Constitucional que estava em elaboração ainda em princípios de 1918.
Sumário da Revolução Americana
Thomas Jefferson (1743-1826)
Data
4 de julho de 1776
Documentos
Declaração de Independência de 1776 e as Dez Emendas de 1791
Os líderes
George Washington, Thomas Jefferson, Alexander Hamilton, John Adams, Benjamin Franklin
Constituição
1787 , na Filadélfia
Regime
República presidencialista e federativa, reconhecido pelo Tratado de Paris de 1783
Auxilio externo
Marquês de Lafayette
Sumário da Revolução Francesa de 1789
Século XX
História - Século XX
SÉCULO XX
A Guerra Fria na Cultura
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A Guerra Fria, confronto permanente entre o capitalismo norte-americano e o comunismo soviético que se estendeu de 1947 a 1991, não se limitou aos aspectos estratégicos, político-diplomáticos e militares. Atingiu círculos ainda mais amplos com a inclusão das artes, das letras e da cultura em geral, arregimentadas por ambos os lados no confronto das idéias, do embate ideológico e estético que contrapôs as duas superpotências. Num livro bem pesquisado, a historiadora inglesa Frances Stonor Saunders, publicado em 1999, revelou "Quem pagou a conta?".
O antecedente comunista
Willi Münzenberg, um apparatchik e deputado do KDP, o Partido Comunista Alemão, nascido em Erfurt em 1889 - quando jovem privou com Lenin na Suíça e depois na Rússia - foi uma das figuras mais enigmáticas que agiu nos bastidores do Movimento Comunista Internacional no período do Entre-Guerras (1918-1939). Homem da Comintern, a Internacional Comunista controlada por Moscou, e ligado a OGPU/NKVD (então política secreta soviética), durante quase vinte anos ele envolveu-se na maioria das causas célebres que mobilizaram a esquerda daquela época.
Projetado pela campanha para enviar alimentos para a URSS durante a terrível fome de 1921, Willi, que tinha notável capacidade de agregar pessoas, tornou-se o agente perfeito para angariar recursos financeiros para as causas que abraçava.
Em 1925, desembarcando nos Estados Unidos, ele ajudou transformar o caso de dois operários anarquistas, a dupla Sacco e Fanzetti, condenados à morte pelo assassinato de um contador e um guarda de uma fábrica, num movimento contra a injustiça universal do capitalismo. Atiçando a opinião pública contra as autoridades norte-americanas, de Nova York a Londres, de Buenos Aires a Johanesburgo, protestos explodiram contra a aplicação da sentença de morte, ocorrida finalmente em 1927.
Desde então, por detrás de qualquer acontecimento político, social ou cultural que fosse relevante sobre o ponto de vista da luta ideológica, lá estava o engenho profissional de Willi Münzenberg que se revelou um mestre em recorrer à comitês ou comissões como fachada para as operações de apoio.
Um dos seus maiores feitos foi ter organizado um contra-tribunal em Londres para julgar o incêndio do Reichtag, ocorrido em fevereiro de 1933 (incidente que serviu de pretexto para Hitler impusesse a ditadura nacional-socialista na Alemanha).
Tão bem sucedida foi a encenação, materializada na publicação The Brown Book of the Reichtag fire (O Livro marrom do incêndio do Reichtag), certamente redigida por Otto Katz, que durante muitos anos se acreditou teriam sido os nazistas quem realmente haviam tocado fogo no prédio do poder legislativo alemão (versão acatada por muitos historiadores e que somente foi desmentida pela pesquisa de Fritz Tobias em 1960). Tudo indica também que foi ele quem conseguiu aliciar Kim Philby, então estudante inglês da Universidade de Cambridge, para atuar como espião da KGB soviética.
Seduzindo a intelligenstia esquerdista
Sepultando Sacco e Vanzetti (tela de Ben Shahn) Especializou-se ainda, com a cobertura da International Aid Committee for the Victims of Fascism, Comitê Internacional de Ajuda às Vítimas do Fascismo, na busca da adesão da intelligenstia da Europa Ocidental, amparando-a financeiramente com a publicação de livros e na veiculação de artigos favoráveis à URSS junto à mídia impressa da época, sempre dando um ar de "espontaneidade" às manifestações que surgiam.
Na capital britânica, por intermédio do mesmo Otto Katz, o seu braço-direito, aproximou-se do sofisticado grupo londrino de Bloomsbury, especialmente de John Strachey, um dos fundadores do Left Book Club, Clube do Livro de Esquerda, que provavelmente aceitou recursos de Münzenberger. Durante a Guerra Civil Espanhola esmerou-se em recrutar voluntários para as Brigadas Internacionais que atuaram na defesa da República.
Homem de sete instrumentos, chegou a ser chamado de o "Milionário Vermelho", tais eram os meios que ele dispunha para atuar como um mecenas da causa marxista graças aos inumeráveis Fundos que engendrou em seu apoio. Indisposto finalmente com Stalin em 1938, viu-se expulso do Comintern. Münzenberg terminou seus dias em 22 de outubro enforcado numa floresta perto de Grenoble, na fronteira franco-suiça, quando os nazistas invadiram a França em 1940 (provavelmente ele se suicidou para não ser capturado).
Pois foi exatamente a técnica operacional e articuladora dele, atuando nas sombras por meio dos "Clubes Inocentes" que, paradoxalmente, terminou por servir para que os anticomunistas norte-americanos, durante a Guerra Fria, a ela recorressem nas suas "operações culturais encobertas" para lutar contra a União Soviética, que então gozava de enorme prestígio junto a escritores e pensadores ocidentais. Tanto assim que vários ex-comunistas que haviam trabalhado para o "Münzenberg trust", desiludidos com a causa, como foi o caso do escritor Arthur Koestler, terminaram por oferecer seus serviços para a CIA (Agência Central de Inteligência).
Congressos de todos os tipos
Willi Münzenberg, homem sombra do Comintern No auge do esfriamento das relações EUA-URSS, baseados ainda nas experiências do falecido Münzenberger, os comunistas sob o comando do escritor Alexander Fadeev organizaram um congresso que foi realizado nas dependências do Waldorf-Astoria em Nova York, em maio de 1949, reunindo a nata dos simpatizantes esquerdistas ou de "companheiros-de-viagem". O objetivo da Cultural and Scientific Conference for World Peace, a Conferência Cultural e Científica pela Paz Mundial, era retomar o clima de confraternização que caracterizara as duas superpotências na época da Segunda Guerra Mundial, desanuviando no que fosse possível o clima pesado de enfrentamento provocado pela Guerra Fria.
Sob fogo cerrado das organizações direitistas, entre os 800 delegados que nela estiveram presentes estavam nomes famosos como os teatrólogos Arthur Miller e Lillian Hellman, o jovem romancista Norman Mailler, o compositor Aaron Copland, o poeta Louis Untermeyer, e o crítico do New York Times Olin Downes.
Ainda que o Congresso do Waldorf estivesse bem longe de ser um sucesso, ele serviu como inspiração para que a CIA (Agencia Central de Inteligência), tomasse medidas para organizar algo semelhante na Europa, uma espécie de contra-congresso para arregimentar as forças anticomunistas e da esquerda anti-stalinista, ainda que por vezes antiamericana, para fazer frente ao aliciamento de cérebros e de simpatias promovido pela URSS.
Foi assim que surgiu o Congress for Cultural Freedom, ou CCF, Congresso pela Liberdade Cultural, aberto no Titania Palace em 26 de junho de 1950, organizado pelo seu secretário-administrativo Michael Josselson (1908-1978). Este era um homem-forte da Agência, um diligente poliglota que nascera na Estônia e que servira na inteligência militar durante a guerra.(*)
Para tanto, contou com a colaboração direta de dois ex-comunistas alemães, Franz Borkenau e Ruth Fischer e a capacidade operacional e o entusiasmo de Melvin J. Lasky, editor da revista Der Monat. Além deles ainda estiveram presentes o historiador inglês Hugh Trevor-Roper, o escritor italiano Ignazio Silone, o sociólogo francês Raymond Aron e o filósofo nova-iorquino Sidney Hook. A palavra de ordem alardeada frente aos 15 mil exaltados participantes foi: "Amigos! A Liberdade tomará a ofensiva!" - como Arthur Koestler gritou para eles ao final da leitura do Manifesto pela Liberdade ao encerrar o congresso no dia 29 de junho.
(*) Josselson deixou para a Harry Ransom Humanities Research Center 34 caixas de documentos, entre elas a sua correspondência com intelectuais e políticos como Raymond Aron, Ulli Beier, Daniel Bell, Francois Bondy, Willy Brandt, Zbignew Brzezinski, Theodore Draper, Pierre Emmanuel, John Kenneth Galbraith, George F. Kennan, Arthur Koestler, Irving Kristol, Melvyn Lasky, Minoo Masani, Ezekiel Mphahlele, Jayaprakash Narayan, Nicolas Nabokov, William Oppenheimer, Michael Polanyi, Arthur Schlesinger, Jr., Edward Shils, Iganzio Silone, Stephen Spender, e Shepard Stone. A maioria deles formava o que se pode denominar como o estado-maior do anticomunismo ocidental.
Financiando a esquerda também
Portanto, foi no biênio de 1949-1950, caudatário da Doutrina Truman e do Plano Marshall, que se formou o embrião de uma série de atividades encobertas que visavam apoiar revistas, editoras, lançamentos de livros, encontros intelectuais e até espetáculos sinfônicos, para angariar simpatia para a política norte-americana. A engenhosidade do programa da CIA, que se estendeu por quase vinte anos até ser denunciado em 1967, revelou-se no fato de não somente patrocinar os anticomunistas mais notórios, mas sim de procurar atrair para o "o lado bom" os intelectuais esquerdistas que haviam rompido com o stalinismo ou que simplesmente eram assumidamente anti-soviéticos.
Exatamente esta política é que deveria ser ocultada da opinião pública norte-americana, na época fortemente influenciada pelas campanhas anticomunistas do senador Joseph McCarthy, que então presidia o Comitê das Atividades Antiamericanas. Seria intolerável para o cidadão norte-americano saber que o seu serviço secreto despejava o dinheiro dos contribuintes nos bolsos de esquerdistas, ainda que “amigos”.
A CIA então, temerosa de atrair contra si o furor do Macarthismo, ainda que por motivos diferentes, tratou de camuflar duplamente suas operações, tanto junto ao público interno (omitindo seu apoio ao ex-comunistas), como ao externo (ocultando que suas promoções culturais serviam aos interesses políticos e ideológicos do estado norte-americano).
Bibliografia
Grémion ,Pierre - Intelligence de l'anticommunisme. Le congrès pour la liberté de la culture à Paris (1950-1975), Paris, Fayard, 1995.
Koch, Stephen - Double Lives: Spies and Writers in the Secret Soviet War of Ideas Against the West. Nova York: Free Press, 1993.
Koch, Stephen - Lying for the truth: Münzenberg & the Comintern. The New Criterion, on line.
Meekin, Sean - The Red Millionaire: A Political Biography of Willy Munzenberg, Moscow's Secret Propaganda Tsar in the West. Yale University Press, 2003.
Sauders, Frances Stonor – Quem pagou a conta? A CIA e a Guerra Fria da Cultura. Rio de Janeiro: Editora Record, 2008.
Wilford, Hugh - The Mighty Wurlitzer: How the CIA Played America. Harvard University Press, 2008.
SÉCULO XX
A Guerra Fria na Cultura
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A Guerra Fria, confronto permanente entre o capitalismo norte-americano e o comunismo soviético que se estendeu de 1947 a 1991, não se limitou aos aspectos estratégicos, político-diplomáticos e militares. Atingiu círculos ainda mais amplos com a inclusão das artes, das letras e da cultura em geral, arregimentadas por ambos os lados no confronto das idéias, do embate ideológico e estético que contrapôs as duas superpotências. Num livro bem pesquisado, a historiadora inglesa Frances Stonor Saunders, publicado em 1999, revelou "Quem pagou a conta?".
O antecedente comunista
Willi Münzenberg, um apparatchik e deputado do KDP, o Partido Comunista Alemão, nascido em Erfurt em 1889 - quando jovem privou com Lenin na Suíça e depois na Rússia - foi uma das figuras mais enigmáticas que agiu nos bastidores do Movimento Comunista Internacional no período do Entre-Guerras (1918-1939). Homem da Comintern, a Internacional Comunista controlada por Moscou, e ligado a OGPU/NKVD (então política secreta soviética), durante quase vinte anos ele envolveu-se na maioria das causas célebres que mobilizaram a esquerda daquela época.
Projetado pela campanha para enviar alimentos para a URSS durante a terrível fome de 1921, Willi, que tinha notável capacidade de agregar pessoas, tornou-se o agente perfeito para angariar recursos financeiros para as causas que abraçava.
Em 1925, desembarcando nos Estados Unidos, ele ajudou transformar o caso de dois operários anarquistas, a dupla Sacco e Fanzetti, condenados à morte pelo assassinato de um contador e um guarda de uma fábrica, num movimento contra a injustiça universal do capitalismo. Atiçando a opinião pública contra as autoridades norte-americanas, de Nova York a Londres, de Buenos Aires a Johanesburgo, protestos explodiram contra a aplicação da sentença de morte, ocorrida finalmente em 1927.
Desde então, por detrás de qualquer acontecimento político, social ou cultural que fosse relevante sobre o ponto de vista da luta ideológica, lá estava o engenho profissional de Willi Münzenberg que se revelou um mestre em recorrer à comitês ou comissões como fachada para as operações de apoio.
Um dos seus maiores feitos foi ter organizado um contra-tribunal em Londres para julgar o incêndio do Reichtag, ocorrido em fevereiro de 1933 (incidente que serviu de pretexto para Hitler impusesse a ditadura nacional-socialista na Alemanha).
Tão bem sucedida foi a encenação, materializada na publicação The Brown Book of the Reichtag fire (O Livro marrom do incêndio do Reichtag), certamente redigida por Otto Katz, que durante muitos anos se acreditou teriam sido os nazistas quem realmente haviam tocado fogo no prédio do poder legislativo alemão (versão acatada por muitos historiadores e que somente foi desmentida pela pesquisa de Fritz Tobias em 1960). Tudo indica também que foi ele quem conseguiu aliciar Kim Philby, então estudante inglês da Universidade de Cambridge, para atuar como espião da KGB soviética.
Seduzindo a intelligenstia esquerdista
Sepultando Sacco e Vanzetti (tela de Ben Shahn) Especializou-se ainda, com a cobertura da International Aid Committee for the Victims of Fascism, Comitê Internacional de Ajuda às Vítimas do Fascismo, na busca da adesão da intelligenstia da Europa Ocidental, amparando-a financeiramente com a publicação de livros e na veiculação de artigos favoráveis à URSS junto à mídia impressa da época, sempre dando um ar de "espontaneidade" às manifestações que surgiam.
Na capital britânica, por intermédio do mesmo Otto Katz, o seu braço-direito, aproximou-se do sofisticado grupo londrino de Bloomsbury, especialmente de John Strachey, um dos fundadores do Left Book Club, Clube do Livro de Esquerda, que provavelmente aceitou recursos de Münzenberger. Durante a Guerra Civil Espanhola esmerou-se em recrutar voluntários para as Brigadas Internacionais que atuaram na defesa da República.
Homem de sete instrumentos, chegou a ser chamado de o "Milionário Vermelho", tais eram os meios que ele dispunha para atuar como um mecenas da causa marxista graças aos inumeráveis Fundos que engendrou em seu apoio. Indisposto finalmente com Stalin em 1938, viu-se expulso do Comintern. Münzenberg terminou seus dias em 22 de outubro enforcado numa floresta perto de Grenoble, na fronteira franco-suiça, quando os nazistas invadiram a França em 1940 (provavelmente ele se suicidou para não ser capturado).
Pois foi exatamente a técnica operacional e articuladora dele, atuando nas sombras por meio dos "Clubes Inocentes" que, paradoxalmente, terminou por servir para que os anticomunistas norte-americanos, durante a Guerra Fria, a ela recorressem nas suas "operações culturais encobertas" para lutar contra a União Soviética, que então gozava de enorme prestígio junto a escritores e pensadores ocidentais. Tanto assim que vários ex-comunistas que haviam trabalhado para o "Münzenberg trust", desiludidos com a causa, como foi o caso do escritor Arthur Koestler, terminaram por oferecer seus serviços para a CIA (Agência Central de Inteligência).
Congressos de todos os tipos
Willi Münzenberg, homem sombra do Comintern No auge do esfriamento das relações EUA-URSS, baseados ainda nas experiências do falecido Münzenberger, os comunistas sob o comando do escritor Alexander Fadeev organizaram um congresso que foi realizado nas dependências do Waldorf-Astoria em Nova York, em maio de 1949, reunindo a nata dos simpatizantes esquerdistas ou de "companheiros-de-viagem". O objetivo da Cultural and Scientific Conference for World Peace, a Conferência Cultural e Científica pela Paz Mundial, era retomar o clima de confraternização que caracterizara as duas superpotências na época da Segunda Guerra Mundial, desanuviando no que fosse possível o clima pesado de enfrentamento provocado pela Guerra Fria.
Sob fogo cerrado das organizações direitistas, entre os 800 delegados que nela estiveram presentes estavam nomes famosos como os teatrólogos Arthur Miller e Lillian Hellman, o jovem romancista Norman Mailler, o compositor Aaron Copland, o poeta Louis Untermeyer, e o crítico do New York Times Olin Downes.
Ainda que o Congresso do Waldorf estivesse bem longe de ser um sucesso, ele serviu como inspiração para que a CIA (Agencia Central de Inteligência), tomasse medidas para organizar algo semelhante na Europa, uma espécie de contra-congresso para arregimentar as forças anticomunistas e da esquerda anti-stalinista, ainda que por vezes antiamericana, para fazer frente ao aliciamento de cérebros e de simpatias promovido pela URSS.
Foi assim que surgiu o Congress for Cultural Freedom, ou CCF, Congresso pela Liberdade Cultural, aberto no Titania Palace em 26 de junho de 1950, organizado pelo seu secretário-administrativo Michael Josselson (1908-1978). Este era um homem-forte da Agência, um diligente poliglota que nascera na Estônia e que servira na inteligência militar durante a guerra.(*)
Para tanto, contou com a colaboração direta de dois ex-comunistas alemães, Franz Borkenau e Ruth Fischer e a capacidade operacional e o entusiasmo de Melvin J. Lasky, editor da revista Der Monat. Além deles ainda estiveram presentes o historiador inglês Hugh Trevor-Roper, o escritor italiano Ignazio Silone, o sociólogo francês Raymond Aron e o filósofo nova-iorquino Sidney Hook. A palavra de ordem alardeada frente aos 15 mil exaltados participantes foi: "Amigos! A Liberdade tomará a ofensiva!" - como Arthur Koestler gritou para eles ao final da leitura do Manifesto pela Liberdade ao encerrar o congresso no dia 29 de junho.
(*) Josselson deixou para a Harry Ransom Humanities Research Center 34 caixas de documentos, entre elas a sua correspondência com intelectuais e políticos como Raymond Aron, Ulli Beier, Daniel Bell, Francois Bondy, Willy Brandt, Zbignew Brzezinski, Theodore Draper, Pierre Emmanuel, John Kenneth Galbraith, George F. Kennan, Arthur Koestler, Irving Kristol, Melvyn Lasky, Minoo Masani, Ezekiel Mphahlele, Jayaprakash Narayan, Nicolas Nabokov, William Oppenheimer, Michael Polanyi, Arthur Schlesinger, Jr., Edward Shils, Iganzio Silone, Stephen Spender, e Shepard Stone. A maioria deles formava o que se pode denominar como o estado-maior do anticomunismo ocidental.
Financiando a esquerda também
Portanto, foi no biênio de 1949-1950, caudatário da Doutrina Truman e do Plano Marshall, que se formou o embrião de uma série de atividades encobertas que visavam apoiar revistas, editoras, lançamentos de livros, encontros intelectuais e até espetáculos sinfônicos, para angariar simpatia para a política norte-americana. A engenhosidade do programa da CIA, que se estendeu por quase vinte anos até ser denunciado em 1967, revelou-se no fato de não somente patrocinar os anticomunistas mais notórios, mas sim de procurar atrair para o "o lado bom" os intelectuais esquerdistas que haviam rompido com o stalinismo ou que simplesmente eram assumidamente anti-soviéticos.
Exatamente esta política é que deveria ser ocultada da opinião pública norte-americana, na época fortemente influenciada pelas campanhas anticomunistas do senador Joseph McCarthy, que então presidia o Comitê das Atividades Antiamericanas. Seria intolerável para o cidadão norte-americano saber que o seu serviço secreto despejava o dinheiro dos contribuintes nos bolsos de esquerdistas, ainda que “amigos”.
A CIA então, temerosa de atrair contra si o furor do Macarthismo, ainda que por motivos diferentes, tratou de camuflar duplamente suas operações, tanto junto ao público interno (omitindo seu apoio ao ex-comunistas), como ao externo (ocultando que suas promoções culturais serviam aos interesses políticos e ideológicos do estado norte-americano).
Bibliografia
Grémion ,Pierre - Intelligence de l'anticommunisme. Le congrès pour la liberté de la culture à Paris (1950-1975), Paris, Fayard, 1995.
Koch, Stephen - Double Lives: Spies and Writers in the Secret Soviet War of Ideas Against the West. Nova York: Free Press, 1993.
Koch, Stephen - Lying for the truth: Münzenberg & the Comintern. The New Criterion, on line.
Meekin, Sean - The Red Millionaire: A Political Biography of Willy Munzenberg, Moscow's Secret Propaganda Tsar in the West. Yale University Press, 2003.
Sauders, Frances Stonor – Quem pagou a conta? A CIA e a Guerra Fria da Cultura. Rio de Janeiro: Editora Record, 2008.
Wilford, Hugh - The Mighty Wurlitzer: How the CIA Played America. Harvard University Press, 2008.
Educação
Portugal em 1807, entre o mar e o rochedo
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» Portugal em 1807, entre o mar e o rochedo (parte II)
Pequeno reino situado à beira do Oceano Atlântico, Portugal dos começos do século XIX sentia-se como um molusco aturdido entre a violência do mar e a solidez do rochedo. Era uma "orelha de terra" premida de um lado, do lado do mar, pelo Império Britânico, senhor das águas do mundo de então, do outro, o do rochedo, pelo Império Napoleônico, comandado pelo mais brilhante general da história européia. Qual seria o seu destino?
Portugal devia desaparecer
Embarque da Corte, 1807( tela de Nicolas Delerive) Qual caminho lhe restava a seguir para poder sobrevier em meio àquela luta titânica que separava as duas maiores potências da Europa? A Coroa bragantina, todavia, tinha um trunfo secreto, algo que os outros reinos menores da época não tinham: a possibilidade de retirar-se para o distante Brasil.
Decretado o Bloqueio Continental por Napoleão em Berlim, em 21 de novembro de 1806 (visando isolar e levar a Grã-Bretanha a bancarrota em resposta a vitória do almirante Nelson na batalha de Trafalgar, em 21 de outubro de 1805), aguardou o imperador a obediência dos demais estados europeus a que não negociassem mais com Londres.
Portugal, entretanto, tinha históricas ligações com a coroa inglesa, sendo que praticamente naquelas alturas vivia na raia protetora das embarcações inglesas.(*)
Não havia modo do Regente português, o príncipe D.João, aceitar a imposição ordenada por Bonaparte sem que de imediato pusesse em perigo todas as suas colônias do ultramar. Colocou-se frente a uma situação extrema: se traísse os seus velhos aliados perdia o que lhe restava das possessões espalhadas pelo mundo, se desobedecesse a Napoleão seria invadido.
Exatamente isso, de por um fim às hesitações do Bragança, foi o que se tratou em Fontainebleau, em 27 de outubro de 1807, por ocasião do acordo secreto assinado entre franceses e espanhóis tendo em vista a posição de falso neutralismo de D.João. Como deveria ocorrer a ocupação de Portugal?
Antes de tudo a Espanha aceitaria tropas francesas, comandadas pelo Marechal Murat, em trânsito para fronteira de Portugal. Encerrada em seguida a invasão, o território ocupado seria dividido em três partes: o Reino da Lusitânia Setentrional , compreendendo o Porto e seus arredores, seria da rainha regente da Etrúria (como compensação pela entrega da Toscana aos franceses); o Principado do Algarves (com o Alentejo) ficaria para Manoel de Godoy, o Príncipe da Paz, ministro supremo do reino da Espanha; por fim, as Províncias da Beira, Trás-os-Montes e Estremadura, sob controle direto francês estaria à disposição de uma negociação futura.
Davam-se assim os passos para por fim à independência do reino lisboeta( sem que com tudo revertesse à situação de 1580, começo da União Ibérica, quando Portugal foi incorporado ao reino de Filipe II). Deste modo, numa só sentada, o reino autônomo que fora restaurado pelos Bragança em 1640, desapareceu no mapa do Império Napoleônico, subdividido em três minúsculas províncias.
(*) O mais remoto acordo acertado entre a Inglaterra e Portugal remonta ao Tratado de Londres de 16 de Junho de 1373, ocasião em que João de Gante deu a mão de sua filha, Filipa de Lencastre, a D. João I - ato que selou a aliança política. A influência de Filipa de Lencastre foi notável, tanto no ponto de vista da sua descendência (a Ínclita Geração) bem como pela sua intervenção no que diz respeito às relações comerciais entre Portugal e Inglaterra, incentivando as importações de bacalhau e vestuário de Inglaterra e a exportação de cortiça, sal, vinho e azeite, a partir dos armazéns do Porto. Situação que foi mais consolidada pelo Tratado de Windsor de 1386 acertando favores comerciais e defesa conjunta.Esta relação adquiriu caráter definitivo pela assinatura do Tratado de Methuen, de 1703, tão criticado, que trocava produtos portugueses primários por material mecânico e têxtil dos ingleses.
Dependência Ibérica
Tanto que reinos decadentes, a Espanha e Portugal mantinham enormes extensões no Novo Mundo, na África e na Ásia. As conservavam quase que inteiras devido à proteção que as duas potências emergentes do século XVIII-XIX, a Grã-Bretanha e a França, lhes davam.
O eixo Londres-Lisboa contrapunha-se ao de Paris-Madri. Natural fosse que quando ingleses e franceses crescentemente se rivalizavam pelo domínio do império do mundo, metendo-se em guerras (desde o começo da Guerra dos Sete Anos, em 1758, até a derrota de Napoleão em Waterloo, em 1815), arrastavam consigo os reinos ibéricos, forçando cada um deles a alinhar-se a um dos lados.
Ainda que a Espanha de Carlos IV, por razões ideológicas e de sangue (tinha parentesco com os Bourbon franceses), tivesse reagido à execução de Luis XVI, em 1793, enviando tropas juntamente com Portugal para assolar a jovem República Francesa na região do Languedoc-Roussillon (na campanha do Rossilhão, de 1793-5, desbaratada pelos generais republicanos que aplicaram derrota aos luso-espanhóis), Madri logo se deu conta que não podia voltar-se contra Paris, não importando o regime radical que de lá governasse, pois justamente a França era a principal fiadora do seu império ultramarino, permanentemente ameaçado pela cobiça britânica.
Fez então o acordo franco-espanhol de 1795, o Tratado de Basiléia, assinado em 22 de julho daquele ano, que projetou o nome de Manoel de Godoy, o plenipotenciário que representava o rei Carlos IV, e que logo ostentou o título de Príncipe da Paz. Por ele, a Espanha voltava a pôr-se ao abrigo de Paris, entregando em troca metade da ilha de São Domingos (Haiti).
Portugal, apesar de ter acolhido tropas inglesas em seu território, insistia retoricamente em manter-se neutro, tentando equilibrar-se em meio aquela confusão. Situação que conseguiu prolongar com estratagemas por mais doze anos com artifícios de toda ordem.(*)
(*)com exceção da curta invasão sofrida desde o Alentejo, liderada por Manoel de Godoy, no conhecido episódio chamado jocosamente de Guerra das Laranjas, de 1801, e que veio assinalar o começo da longa Guerra Peninsular, travada entre os reinos ibéricos, a Grã-Bretanha e a França, que se estendeu até 1814. Portugal safou-se do pior assinando o Tratado de Badajoz, de 6 de Junho de 1801.
O Brasil, por sua vez, fechado para o mundo desde 1605, como grande parte das possessões ultramarinas, passou a ser alvo do interesse britânico, ferindo o monopólio luso, arrancando aqui e ali concessões da metrópole Lisboeta.
Uma corte infeliz
D.João e Carlota Joaquina, um casal infeliz (tela de Manuel Dias de Oliveira) A monarquia lisboeta, sabia-se, era uma corte infeliz. A rainha-mãe, D.Maria I, uma carola, enlouquecera de tanto acreditar que o seu pai, o rei D.José I, ao banir os jesuítas por injunção do Marquês de Pombal, havia virado numa pira de carvão, ardendo para sempre no inferno.
Em 1792 cedera de fato a autoridade ao seu filho D.João, seu secundogênito, um príncipe de escasso humor, com tendência a engordar, baixo e muito feio, que "dormia no teatro e deliciava-se na igreja".
Para o cúmulo da desdita ele casara com D.Carlota Joaquina, infanta espanhola de gênio temperamental, uma quase anã sem atrativo de beleza, manca e belicosa, "com os impulsos do sexo alvoroçados", que, entre outras coisas, conspirava contra o poder do próprio marido.
Situação que fez com que ambos vivessem separados, ela no Palácio de Queluz, o marido no Palácio-convento de Mafra (apesar disso, o casal teve uma ninhada de nove príncipes e princesas). Tudo isso envolto num cenário de beatice resignada, de procissões, de jejuns e flagelações, de missas em favor a quantidades infinitas de santos e santas, num um ar de tristeza mórbida. A Coroa infeliz reinava sobre "uma infeliz nação", distante do restante da Europa em usos e costumes, "que se julga andarem os portugueses ter séculos atrás das demais nações" (Hipólito da Costa – Correio Brasiliense, vol III, 146).
O jovem regente era famoso por apavorar-se com trovoadas e com as "conspirações jacobinas" que estavam a atentar contra ele, a maioria delas supostas ou inventadas por Pina Manique (1733-1805), um intendente-geral da polícia, feroz perseguidor de liberais e "pedreiros-livres" (maçons), explorava a inclinação assustadiça do soberano com pavores mil, fazendo-o acreditar estar Lisboa, quando não a própria Barraca Real, o Palácio da Ajuda, apinhada de punhais de Bruto, de doidos ou de revolucionários, prontos a abatê-lo em cada canto ou por detrás das cortinas. (*)
(*) A paranóia de D.João, o pavor a ser atacado das sombras, é que determinou uma curiosa reforma nas janelas do Rio de Janeiro. Quando a corte por lá se fixou em 1808, temeroso que pudessem embosca-lo de alguma delas, cobertas por rótulas de madeira, autorizou ao intendente-geral da polícia, o ouvidor e desembargador Paulo Fernandes Viana, que ordenasse que elas devessem ter vidraças para desse modo expor e assim desestimular um possível regicida. (ver Laurentino Gomes "1808",
Transferir o trono de lugar
Todavia, mostrou-se suficiente hábil em conseguir protelar ao máximo o momento em que Napoleão daria sumiço no seu reino, conseguindo evacuar da capital em tempo curto a maior parte dos integrantes da corte e da fidalguia lusitana, junto com as louças e a prataria, quando chegou a hora derradeira.
O plano de levar o trono para a outra beira longínqua do Atlântico Sul não era novo entre os portugueses. Em ocasiões outras, monarcas premidos pelas circunstâncias infelizes, como foi o caso de d.João IV (1604-1656), na época do padre Vieira, já haviam cogitado em transferir-se para os trópicos, pelo menos como uma solução transitória no intuito de escapar ao sufoco de algum invasor.
Na época do regente D.João, a mais clara exposição de motivos para realizar a operação foi dada pelo Marquês de Alorna num arrazoado escrito seis anos antes da retirada, por ocasião da Guerra das Laranjas, em que dizia:
"A balança na Europa está tão mudada que os cálculos de há dez anos saem todos errados na era presente.Em todo caso o que é preciso é Vossa Alteza Real continue a reinar, e que não suceda à sua coroa, o que sucedeu à da Sardenha, à de Nápoles e o que entra no projeto das grandes potências que sucede a todas as coroas de segunda ordem na Europa.
V A .R. tem um grande império no Brasil, e o mesmo inimigo que o ataca agora com tanta vantagem, talvez trema e mude de projeto, se V.A .R. o ameaçar de que se dispõe a ir ser imperador naquele vasto território adonte facilmente pode conquistar as colônias espanholas e aterrar em pouco tempo as de todas as potências da Europa.
Portanto é preciso que V. A .R. mande armar com toda a pressa todos os seus navios de guerra, e todos os de transporte, que se acharem na Praça de Lisboa – que meta neles a princesa, os seus filhos,e os seus tesouros, e que ponha tudo isto pronto a partir sobre a Barra de Lisboa(...) (carta de 30 de maio de 1801, citada por Oliveira Lima- D.João VI e o Brasil)
Sem alternativas
O general Junot entrando em Lisboa (27/12/07) Sabendo-o um indeciso crônico e medroso, não deixa de ser significativo que a determinação dele, acatando o ponto de vista do ministro D.Rodrigo de Souza Coutinho, dos Negócios da Marinha e do Ultramar, em deixar Lisboa, foi a melhor solução encontrada. No seu jornal Hipólito da Costa já recomendara "...se não tivesse o vasta império do Brasil, deveria ir para for, ainda que fosse para as Berlengas, ainda que se conservasse no mar sobre a vela, em suas esquadras..."
O exército português, reduzido a uns 10 ou 12 mil homens mal armados e pior adestrados, não era páreo para nenhuma das divisões de Napoleão (independente do fato de observadores terem apontado o estado lastimável dos regimentos franceses que chegaram à capital). Por conseguinte, o príncipe que se sabia pouco talhado a ser herói, não podia enfrentá-lo. D.João não tinha inclinação em se fazer de Davi para abater o Golias napoleônico. Ficar e resistir era perder o trono e a liberdade. Dele, da sua família e do reino inteiro.
Escafeder-se pelo oceano com tudo o que pudesse carregar pareceu-lhe o mais sensato, e de fato o foi. Pouco importa que chamassem isso de "fuga", ou de "ato covarde", pois o que imperou foi o bom senso. Quando, por fim, as vanguardas esfaimadas do exército o general Junot adentraram em Lisboa em 30 de novembro de 1807, vindos de uma campanha rápida e sem resistências, o comboio naval lusitano já inflara as velas. Levando umas 15 mil pessoas expremidas a bordo de 35 embarcações, apoiado por reforços ingleses da esquadra do almirante Sidney Smith, já fazia três dias que se desferrara do cais de Belém. O preço desse amparo à corte em retirada era a abertura dos portos do Brasil ao comércio britânico.
Somente na manhã do dia 29 de novembro conseguiu os ventos necessários rumando então para o alto mar, emproado em direção ao Brasil. Era o estado português inteiro, fundado 664 antes por D.Afonso Henriques, que se transladava para o exílio. Deixava atrás de si um povo pasmo e indignado com aquele abandono do que chamaram de "rei fujão".
Da barra do Tejo, qualquer francês com lunetas podia vislumbrar alguns mastros ao longe se indo embora; impotentes, outros viram-nos de cima dos morros da capital.
Bibliografia
Calmon, Pedro – O Rei do Brasil – a vida de D.João VI. São Paulo: Editora Nacional, 1943.
Cheke, Marcus – Carlota Joaquina, a rainha intrigante.Rio de Janeiro:José Olympio Editora, 1949.
Costa, Hipólito José da – Correio Brasiliense ou armazém literário. São Paulo, Brasília:
Imprensa Oficial do Estado, Correio Braziliense, 31 vols., 2002.
Dias, Maria Odila Leite da Silva – Interiorização da Metrópole e outros estudos. Rio de Janeiro: Editora Alameda, 2005.
Faoro, Raimundo – Os Donos do Poder. Formação do Patronato Político Brasileiro. Porto Alegre: Editora Globo, 2 vols. 1979.
Fragoso, João e Gouvêa, Maria de Fátima – Antigo Regime nos Trópicos: a dinâmica imperial portuguesa (séculos XVI-XVIII). Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2001.
Gomes, Laurentino – 1808: Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil. São Paulo:Editora Planeta de Brasil, 2007.
Lima, Oliveira – D.João VI e o Brasil. Rio de Janeiro: Topbooks, 2006.
Manchester, Alan K. - Preeminência inglesa no Brasil. São Paulo: Editora Brasiliense,. 1973.
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Malerba, Jurandir – A Corte no exílio: Civilização e poder no Brasil às vésperas da Independência (1808-1821).São Paulo:Cia das Letras, 2000.
Monteiro, Tobias – História do Império- o Primeiro Reinado. Rio de Janeiro: F.Briguiet e Cia Editoras, 1939.
Prado. J.F. de Almeida - D. João VI e o início da classe dirigente do Brasil: depoimento de um pintor austríaco no Rio de Janeiro. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1968 (Brasiliana, v. 345).
Schwarcz, Lilia Moritz – A longa viagem da Biblioteca dos Reis. São Paulo: Cia das Letras, 2002.
Silva, Maria Beatriz Nizza da – Cultura e sociedade no Rio de Janeiro (1808-1821) - São Paulo: Editora Nacional, 1978, 2ª edição.
Wilcken, Patrick – Império à deriva: a corte portuguesa no Rio de Janeiro 1808-1821. Lisboa:Livraria Civilização Editora. 2005.
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» Portugal em 1807, entre o mar e o rochedo (parte II)
Pequeno reino situado à beira do Oceano Atlântico, Portugal dos começos do século XIX sentia-se como um molusco aturdido entre a violência do mar e a solidez do rochedo. Era uma "orelha de terra" premida de um lado, do lado do mar, pelo Império Britânico, senhor das águas do mundo de então, do outro, o do rochedo, pelo Império Napoleônico, comandado pelo mais brilhante general da história européia. Qual seria o seu destino?
Portugal devia desaparecer
Embarque da Corte, 1807( tela de Nicolas Delerive) Qual caminho lhe restava a seguir para poder sobrevier em meio àquela luta titânica que separava as duas maiores potências da Europa? A Coroa bragantina, todavia, tinha um trunfo secreto, algo que os outros reinos menores da época não tinham: a possibilidade de retirar-se para o distante Brasil.
Decretado o Bloqueio Continental por Napoleão em Berlim, em 21 de novembro de 1806 (visando isolar e levar a Grã-Bretanha a bancarrota em resposta a vitória do almirante Nelson na batalha de Trafalgar, em 21 de outubro de 1805), aguardou o imperador a obediência dos demais estados europeus a que não negociassem mais com Londres.
Portugal, entretanto, tinha históricas ligações com a coroa inglesa, sendo que praticamente naquelas alturas vivia na raia protetora das embarcações inglesas.(*)
Não havia modo do Regente português, o príncipe D.João, aceitar a imposição ordenada por Bonaparte sem que de imediato pusesse em perigo todas as suas colônias do ultramar. Colocou-se frente a uma situação extrema: se traísse os seus velhos aliados perdia o que lhe restava das possessões espalhadas pelo mundo, se desobedecesse a Napoleão seria invadido.
Exatamente isso, de por um fim às hesitações do Bragança, foi o que se tratou em Fontainebleau, em 27 de outubro de 1807, por ocasião do acordo secreto assinado entre franceses e espanhóis tendo em vista a posição de falso neutralismo de D.João. Como deveria ocorrer a ocupação de Portugal?
Antes de tudo a Espanha aceitaria tropas francesas, comandadas pelo Marechal Murat, em trânsito para fronteira de Portugal. Encerrada em seguida a invasão, o território ocupado seria dividido em três partes: o Reino da Lusitânia Setentrional , compreendendo o Porto e seus arredores, seria da rainha regente da Etrúria (como compensação pela entrega da Toscana aos franceses); o Principado do Algarves (com o Alentejo) ficaria para Manoel de Godoy, o Príncipe da Paz, ministro supremo do reino da Espanha; por fim, as Províncias da Beira, Trás-os-Montes e Estremadura, sob controle direto francês estaria à disposição de uma negociação futura.
Davam-se assim os passos para por fim à independência do reino lisboeta( sem que com tudo revertesse à situação de 1580, começo da União Ibérica, quando Portugal foi incorporado ao reino de Filipe II). Deste modo, numa só sentada, o reino autônomo que fora restaurado pelos Bragança em 1640, desapareceu no mapa do Império Napoleônico, subdividido em três minúsculas províncias.
(*) O mais remoto acordo acertado entre a Inglaterra e Portugal remonta ao Tratado de Londres de 16 de Junho de 1373, ocasião em que João de Gante deu a mão de sua filha, Filipa de Lencastre, a D. João I - ato que selou a aliança política. A influência de Filipa de Lencastre foi notável, tanto no ponto de vista da sua descendência (a Ínclita Geração) bem como pela sua intervenção no que diz respeito às relações comerciais entre Portugal e Inglaterra, incentivando as importações de bacalhau e vestuário de Inglaterra e a exportação de cortiça, sal, vinho e azeite, a partir dos armazéns do Porto. Situação que foi mais consolidada pelo Tratado de Windsor de 1386 acertando favores comerciais e defesa conjunta.Esta relação adquiriu caráter definitivo pela assinatura do Tratado de Methuen, de 1703, tão criticado, que trocava produtos portugueses primários por material mecânico e têxtil dos ingleses.
Dependência Ibérica
Tanto que reinos decadentes, a Espanha e Portugal mantinham enormes extensões no Novo Mundo, na África e na Ásia. As conservavam quase que inteiras devido à proteção que as duas potências emergentes do século XVIII-XIX, a Grã-Bretanha e a França, lhes davam.
O eixo Londres-Lisboa contrapunha-se ao de Paris-Madri. Natural fosse que quando ingleses e franceses crescentemente se rivalizavam pelo domínio do império do mundo, metendo-se em guerras (desde o começo da Guerra dos Sete Anos, em 1758, até a derrota de Napoleão em Waterloo, em 1815), arrastavam consigo os reinos ibéricos, forçando cada um deles a alinhar-se a um dos lados.
Ainda que a Espanha de Carlos IV, por razões ideológicas e de sangue (tinha parentesco com os Bourbon franceses), tivesse reagido à execução de Luis XVI, em 1793, enviando tropas juntamente com Portugal para assolar a jovem República Francesa na região do Languedoc-Roussillon (na campanha do Rossilhão, de 1793-5, desbaratada pelos generais republicanos que aplicaram derrota aos luso-espanhóis), Madri logo se deu conta que não podia voltar-se contra Paris, não importando o regime radical que de lá governasse, pois justamente a França era a principal fiadora do seu império ultramarino, permanentemente ameaçado pela cobiça britânica.
Fez então o acordo franco-espanhol de 1795, o Tratado de Basiléia, assinado em 22 de julho daquele ano, que projetou o nome de Manoel de Godoy, o plenipotenciário que representava o rei Carlos IV, e que logo ostentou o título de Príncipe da Paz. Por ele, a Espanha voltava a pôr-se ao abrigo de Paris, entregando em troca metade da ilha de São Domingos (Haiti).
Portugal, apesar de ter acolhido tropas inglesas em seu território, insistia retoricamente em manter-se neutro, tentando equilibrar-se em meio aquela confusão. Situação que conseguiu prolongar com estratagemas por mais doze anos com artifícios de toda ordem.(*)
(*)com exceção da curta invasão sofrida desde o Alentejo, liderada por Manoel de Godoy, no conhecido episódio chamado jocosamente de Guerra das Laranjas, de 1801, e que veio assinalar o começo da longa Guerra Peninsular, travada entre os reinos ibéricos, a Grã-Bretanha e a França, que se estendeu até 1814. Portugal safou-se do pior assinando o Tratado de Badajoz, de 6 de Junho de 1801.
O Brasil, por sua vez, fechado para o mundo desde 1605, como grande parte das possessões ultramarinas, passou a ser alvo do interesse britânico, ferindo o monopólio luso, arrancando aqui e ali concessões da metrópole Lisboeta.
Uma corte infeliz
D.João e Carlota Joaquina, um casal infeliz (tela de Manuel Dias de Oliveira) A monarquia lisboeta, sabia-se, era uma corte infeliz. A rainha-mãe, D.Maria I, uma carola, enlouquecera de tanto acreditar que o seu pai, o rei D.José I, ao banir os jesuítas por injunção do Marquês de Pombal, havia virado numa pira de carvão, ardendo para sempre no inferno.
Em 1792 cedera de fato a autoridade ao seu filho D.João, seu secundogênito, um príncipe de escasso humor, com tendência a engordar, baixo e muito feio, que "dormia no teatro e deliciava-se na igreja".
Para o cúmulo da desdita ele casara com D.Carlota Joaquina, infanta espanhola de gênio temperamental, uma quase anã sem atrativo de beleza, manca e belicosa, "com os impulsos do sexo alvoroçados", que, entre outras coisas, conspirava contra o poder do próprio marido.
Situação que fez com que ambos vivessem separados, ela no Palácio de Queluz, o marido no Palácio-convento de Mafra (apesar disso, o casal teve uma ninhada de nove príncipes e princesas). Tudo isso envolto num cenário de beatice resignada, de procissões, de jejuns e flagelações, de missas em favor a quantidades infinitas de santos e santas, num um ar de tristeza mórbida. A Coroa infeliz reinava sobre "uma infeliz nação", distante do restante da Europa em usos e costumes, "que se julga andarem os portugueses ter séculos atrás das demais nações" (Hipólito da Costa – Correio Brasiliense, vol III, 146).
O jovem regente era famoso por apavorar-se com trovoadas e com as "conspirações jacobinas" que estavam a atentar contra ele, a maioria delas supostas ou inventadas por Pina Manique (1733-1805), um intendente-geral da polícia, feroz perseguidor de liberais e "pedreiros-livres" (maçons), explorava a inclinação assustadiça do soberano com pavores mil, fazendo-o acreditar estar Lisboa, quando não a própria Barraca Real, o Palácio da Ajuda, apinhada de punhais de Bruto, de doidos ou de revolucionários, prontos a abatê-lo em cada canto ou por detrás das cortinas. (*)
(*) A paranóia de D.João, o pavor a ser atacado das sombras, é que determinou uma curiosa reforma nas janelas do Rio de Janeiro. Quando a corte por lá se fixou em 1808, temeroso que pudessem embosca-lo de alguma delas, cobertas por rótulas de madeira, autorizou ao intendente-geral da polícia, o ouvidor e desembargador Paulo Fernandes Viana, que ordenasse que elas devessem ter vidraças para desse modo expor e assim desestimular um possível regicida. (ver Laurentino Gomes "1808",
Transferir o trono de lugar
Todavia, mostrou-se suficiente hábil em conseguir protelar ao máximo o momento em que Napoleão daria sumiço no seu reino, conseguindo evacuar da capital em tempo curto a maior parte dos integrantes da corte e da fidalguia lusitana, junto com as louças e a prataria, quando chegou a hora derradeira.
O plano de levar o trono para a outra beira longínqua do Atlântico Sul não era novo entre os portugueses. Em ocasiões outras, monarcas premidos pelas circunstâncias infelizes, como foi o caso de d.João IV (1604-1656), na época do padre Vieira, já haviam cogitado em transferir-se para os trópicos, pelo menos como uma solução transitória no intuito de escapar ao sufoco de algum invasor.
Na época do regente D.João, a mais clara exposição de motivos para realizar a operação foi dada pelo Marquês de Alorna num arrazoado escrito seis anos antes da retirada, por ocasião da Guerra das Laranjas, em que dizia:
"A balança na Europa está tão mudada que os cálculos de há dez anos saem todos errados na era presente.Em todo caso o que é preciso é Vossa Alteza Real continue a reinar, e que não suceda à sua coroa, o que sucedeu à da Sardenha, à de Nápoles e o que entra no projeto das grandes potências que sucede a todas as coroas de segunda ordem na Europa.
V A .R. tem um grande império no Brasil, e o mesmo inimigo que o ataca agora com tanta vantagem, talvez trema e mude de projeto, se V.A .R. o ameaçar de que se dispõe a ir ser imperador naquele vasto território adonte facilmente pode conquistar as colônias espanholas e aterrar em pouco tempo as de todas as potências da Europa.
Portanto é preciso que V. A .R. mande armar com toda a pressa todos os seus navios de guerra, e todos os de transporte, que se acharem na Praça de Lisboa – que meta neles a princesa, os seus filhos,e os seus tesouros, e que ponha tudo isto pronto a partir sobre a Barra de Lisboa(...) (carta de 30 de maio de 1801, citada por Oliveira Lima- D.João VI e o Brasil)
Sem alternativas
O general Junot entrando em Lisboa (27/12/07) Sabendo-o um indeciso crônico e medroso, não deixa de ser significativo que a determinação dele, acatando o ponto de vista do ministro D.Rodrigo de Souza Coutinho, dos Negócios da Marinha e do Ultramar, em deixar Lisboa, foi a melhor solução encontrada. No seu jornal Hipólito da Costa já recomendara "...se não tivesse o vasta império do Brasil, deveria ir para for, ainda que fosse para as Berlengas, ainda que se conservasse no mar sobre a vela, em suas esquadras..."
O exército português, reduzido a uns 10 ou 12 mil homens mal armados e pior adestrados, não era páreo para nenhuma das divisões de Napoleão (independente do fato de observadores terem apontado o estado lastimável dos regimentos franceses que chegaram à capital). Por conseguinte, o príncipe que se sabia pouco talhado a ser herói, não podia enfrentá-lo. D.João não tinha inclinação em se fazer de Davi para abater o Golias napoleônico. Ficar e resistir era perder o trono e a liberdade. Dele, da sua família e do reino inteiro.
Escafeder-se pelo oceano com tudo o que pudesse carregar pareceu-lhe o mais sensato, e de fato o foi. Pouco importa que chamassem isso de "fuga", ou de "ato covarde", pois o que imperou foi o bom senso. Quando, por fim, as vanguardas esfaimadas do exército o general Junot adentraram em Lisboa em 30 de novembro de 1807, vindos de uma campanha rápida e sem resistências, o comboio naval lusitano já inflara as velas. Levando umas 15 mil pessoas expremidas a bordo de 35 embarcações, apoiado por reforços ingleses da esquadra do almirante Sidney Smith, já fazia três dias que se desferrara do cais de Belém. O preço desse amparo à corte em retirada era a abertura dos portos do Brasil ao comércio britânico.
Somente na manhã do dia 29 de novembro conseguiu os ventos necessários rumando então para o alto mar, emproado em direção ao Brasil. Era o estado português inteiro, fundado 664 antes por D.Afonso Henriques, que se transladava para o exílio. Deixava atrás de si um povo pasmo e indignado com aquele abandono do que chamaram de "rei fujão".
Da barra do Tejo, qualquer francês com lunetas podia vislumbrar alguns mastros ao longe se indo embora; impotentes, outros viram-nos de cima dos morros da capital.
Bibliografia
Calmon, Pedro – O Rei do Brasil – a vida de D.João VI. São Paulo: Editora Nacional, 1943.
Cheke, Marcus – Carlota Joaquina, a rainha intrigante.Rio de Janeiro:José Olympio Editora, 1949.
Costa, Hipólito José da – Correio Brasiliense ou armazém literário. São Paulo, Brasília:
Imprensa Oficial do Estado, Correio Braziliense, 31 vols., 2002.
Dias, Maria Odila Leite da Silva – Interiorização da Metrópole e outros estudos. Rio de Janeiro: Editora Alameda, 2005.
Faoro, Raimundo – Os Donos do Poder. Formação do Patronato Político Brasileiro. Porto Alegre: Editora Globo, 2 vols. 1979.
Fragoso, João e Gouvêa, Maria de Fátima – Antigo Regime nos Trópicos: a dinâmica imperial portuguesa (séculos XVI-XVIII). Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2001.
Gomes, Laurentino – 1808: Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil. São Paulo:Editora Planeta de Brasil, 2007.
Lima, Oliveira – D.João VI e o Brasil. Rio de Janeiro: Topbooks, 2006.
Manchester, Alan K. - Preeminência inglesa no Brasil. São Paulo: Editora Brasiliense,. 1973.
Novais, Fernando A. - Portugal e Brasil na crise do antigo sistema colonial (1777-1808). São Paulo: Editora HUCITEC, 1979.
Malerba, Jurandir – A Corte no exílio: Civilização e poder no Brasil às vésperas da Independência (1808-1821).São Paulo:Cia das Letras, 2000.
Monteiro, Tobias – História do Império- o Primeiro Reinado. Rio de Janeiro: F.Briguiet e Cia Editoras, 1939.
Prado. J.F. de Almeida - D. João VI e o início da classe dirigente do Brasil: depoimento de um pintor austríaco no Rio de Janeiro. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1968 (Brasiliana, v. 345).
Schwarcz, Lilia Moritz – A longa viagem da Biblioteca dos Reis. São Paulo: Cia das Letras, 2002.
Silva, Maria Beatriz Nizza da – Cultura e sociedade no Rio de Janeiro (1808-1821) - São Paulo: Editora Nacional, 1978, 2ª edição.
Wilcken, Patrick – Império à deriva: a corte portuguesa no Rio de Janeiro 1808-1821. Lisboa:Livraria Civilização Editora. 2005.
Prova sobre os escravos(PROVA RELAMPAGO!!)
A prova começa dia 27/05/08 15:23 você tenque fazer esta prova menos que as 19:00.
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